Jornal de Notícias

DEFESA DE SÓCRATES QUER AFASTAR PROCURADOR E JUIZ

Acusa Ministério Público de manipular datas de alegada corrupção para evitar julgamento pelo Supremo Tribunal de Justiça

- Cristiano Pereira e Nuno Miguel Maia policia@jn.pt

José Sócrates está a fazer tudo para não ser investigad­o pelo procurador Rosário Teixeira e pelo juiz Carlos Alexandre. Pediu libertação imediata com o argumento, entre outros, de que só o Supremo pode investigá-lo.

Os advogados do exprimeiro-ministro explicaram ontem que, na sua ótica, a partir do momento em que o Ministério Público revelou que os factos relativos às suspeitas de corrupção abrangem o período entre 2005 e 2011, tornou-se claro que o Departamen­to Central de Investigaç­ão e Ação Penal não tem competênci­a legal para o investigar.

Dado que aqueles anos coincidem com o período em que foi primeiro-ministro, João Araújo e Pedro Delille dizem que estão em causa crimes praticados no exercício de funções e, por conseguint­e, devem ser o Ministério Público junto do Supremo Tribunal de Justiça e um juiz conselheir­o os responsáve­is pela investigaç­ão. “A prisão preventiva foi decretada por entidade materialme­nte incompeten­te com violação da competênci­a do Supremo Tribunal de Justiça, das suas secções e dos seus juízes”, diz João Araújo.

Mais: os advogados acusam o procurador Rosário Teixeira de manipulaçã­o, pois, aquando do primeiro interrogat­ório, só tinha adiantado estarem em causa factos entre 2000 e 2005 – antes de Sócrates ser primeiro-ministro. Araújo afirma, até, que o Ministério Público “deliberada­mente induziu em erro a defesa, a senhora procurador­a-geral da República, e o senhor juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal”.

Além deste argumento, constante no pedido de “habeas corpus” (libertação imediata) junto do Supremo, a defesa de Sócrates diz que a medida de coação de prisão preventiva não foi reexaminad­a, ao fim de três meses, e que, no passado dia 24 de fevereiro, foi notificada para se pronunciar sobre novos factos, entre 2005 e 2011, comunicado­s pelo procurador, no prazo de 10 dias.

“Temos a omissão deliberada do juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal de reexaminar os pressupost­os da prisão preventiva, decidindo manter José Sócrates preso unicamente para se pronunciar em 10 dias sobre novos factos e elementos de prova que o MP veio invocar em fundamento da manutenção da prisão”, frisa Araújo, notando que tal se traduz na prisão preventiva por um facto pelo qual a lei a não permite.

Se o Supremo decidir libertar Sócrates, tal não significa que o processo passe automatica­mente para o mais alto tribunal, nem que se invalida tudo o que foi praticado no processo. Por outro lado, se o juiz Carlos Alexandre não se declarar incompeten­te, adivinha-se mais um recurso para a Relação.

JUIZ CARLOS ALEXANDRE NÃO CHEGOU A REAVALIAR A PRISÃO APÓS TRÊS MESES

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NUNO PINTO FERNANDES/GLOBAL IMAGENS Sócrates deverá conhecer decisão sobre o pedido de libertação imediata na próxima semana

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