THEATRO CIRCO FAZ AGENDA EM SEXO DE ANJO E CAUSA POLÉMICA EM BRAGA
Obra de Caravaggio mostra genitais do Cupido. Sala de espetáculos comemora 100 anos
NA RUA e nas redes sociais, as ilustrações da agenda com os espetáculos de março e abril no Theatro Circo, em Braga, estão a motivar acesas discussões. Toda a agenda é ilustrada com pormenores da pintura “Cupid as Victor”, um quadro de 1611 de Caravaggio. Nas páginas centrais, a imagem de fundo é uma pintura dos órgãos sexuais masculinos, com destaque para várias palavras que descrevem as atividades que decorrem na sala de espetáculos, que está a comemorar 100 anos.
“É a provocação por provocação, mas toda a gente reparou na imagem, o que quer dizer que foi uma grande operação de marketing”, disse Maximino Mota, frequentador do Theatro Circo. “É um bocado parolo e escusado, mas as pessoas das artes acham que está tudo bem mesmo quando está tudo mal”, frisou Celeste Amorim, incomodada com o prospeto.
“Parece-me que discutir questões de estética pode ser muito positivo”, referiu Paulo Brandão, diretor artístico do espaço.
O debate estendeu-se ao Facebook, onde se esgrimem argumentos contra e a favor da publicação da obra de Caravaggio.
Na página “Urbi et Orbi”, um dos principais espaços de discussão sobre Braga, o autor João Paulo Mesquita publicou um texto a que chamou “Albergue Espanhol de Paulo Brandão”.
O comentário arrecadou vários ‘gostos’, entre eles o de Francisco Mesquita Machado, anterior presidente da Câmara de Braga. “Há um excesso de mau gosto”, acrescentou Hugo Pires, vereador socialista na Autarquia local.
Com uma edição de dez mil exemplares, a agenda está a ser distribuída pelos espaços públicos da cidade, divulgando as atividades comemorativas do centenário. “Não me causa nenhum problema a divulgação do corpo humano nu, mas, neste caso, não vejo outra explicação a não ser a provocação”, afirmou ainda Celeste Amorim.
As cuecas da Noite Branca
Esta não é a primeira polémica tendo por base o conceito de arte. Durante a Noite Branca, realizada em setembro de 2014, entre as dezenas de concertos, exposições e instalações, houve uma que deu que falar. No centro da cidade, estavam expostas e legendadas as supostas cuecas de Mesquita Machado, do cónego Melo e do arcebispo, entre outras.
A instalação levou mesmo a que fosse apresentado um pedido de desculpas por parte dos autores da iniciativa. A organização da Noite Braga (coordenada pela Câmara) afirmou desconhecer antecipadamente o teor da mostra.
“Julgo que não faz sentido discutir uma pilinha pintada pelo mestre Caravaggio e com mais de 400 anos”.