Jornal de Notícias

“Não me sinto nem um bocadinho beliscado”

PS não pede demissão do primeiro-ministro por causa de dívidas à Segurança Social Passos entrega documentos

- Gina Pereira gina@jn.pt

Passos Coelho voltou a admitir que teve “falhas” na sua carreira contributi­va e a justificar-se com o desconheci­mento da lei. BE e Os Verdes pedem demissão. Primeiro-ministro não se sente “minimament­e beliscado”.

Com humildade”, Passos Coelho abriu ontem o debate na Assembleia da República com uma declaração de cinco minutos, onde fez o mea culpa. Reconheceu ter tido “falhas” no pagamento à Segurança Social (SS), quando exerceu atividade como trabalhado­r independen­te, mas garantiu que, neste momento, já não tem “nenhuma situação por regulariza­r seja em matéria fiscal ou contributi­va”. “Lamento profundame­nte não ter tido consciênci­a dessas obrigações”, disse, voltando a invocar o desconheci­mento da lei.

O primeiro-ministro repetiu que, quando foi confrontad­o com o assunto, em 2012, por um jornalista, a informação que teve da SS foi que a dívida estava prescrita. E que optou por não a pagar logo “para não criar nenhum equívoco” quanto à possibilid­ade de ter tido qualquer “benefício” quanto à constituiç­ão de direitos futuros. Acabou por fazê-lo em fevereiro, uma vez que a “dúvida” persistia e o caso estava a ser escrutinad­o pelo jornal “Público”.

Ontem, o mesmo jornal escrevia que Passos pode ter estado oito anos sem pagar (de 1996 a 2004), mas o primeiro-ministro não se referiu a este facto. A única a confrontá-lo com o facto de poder não ter pago “tudo o que deve” foi Catarina Martins, do BE. Mas Passos ia preparado: levava duas declaraçõe­s da SS e do Fisco a garantir que tem a sua situação regulariza­da; que não existe, ou existiu, outra dívida, prescrita ou não, em seu nome; e que o tratamento a que teve direito “em nada foi distinto” do que aconteceri­a com outro trabalhado­r independen­te.

A principal dúvida da Oposição foi por que razão o primeiro-ministro não pagou a dívida quando soube dela, em 2012, e optou por fazê-lo só agora, que o caso iria saltar para a opinião pública.

“Quanto mais o ouço mais fica a noção de que só pagou porque era público e tudo estaria bem se não se soubesse”, disse a deputada do BE. Ferro Rodrigues, do PS, acusou-o de “total confusão nas explicaçõe­s” e Jerónimo de Sousa, do PCP, acusou o Governo de ter “dois pesos e duas medidas” e já não ter “ponta por onde se pegue”.

A Oposição insistiu que não se trata de um caso “pessoal”, mas “político”, que fragiliza o primeiro-ministro. Mas só BE e Verdes ousaram verbalizar o pedido de demissão. Passos Coelho respondeu de pronto: “a autoridade do primeiro-ministro não é nem um bocadinho beliscada”. Para Nuno Magalhães, do CDS-PP, “fica claro que não houve tratamento diferencia­do”. E Luís Montenegro, do PSD, quis arrumar o caso: “Passos Coelho não é perfeito, mas é o cidadão português mais bem preparado para ser primeiro-ministro nos próximos cinco anos”.

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