Hospital novo não evita deslocação de doentes a Vila Real
Trás-os-Montes Centenas de doentes obrigados a deslocar-se a Vila Real População com saudades da antiga unidade. Ordem dos Médicos preocupada
Inaugurado em 2013, o Hospital de Proximidade de Lamego não faz jus ao nome. Faltam valências, médicos e camas. Para muitos doentes, a tal proximidade significa viajar até Vila Real para receber cuidados básicos.
OHospital de Lamego, construído para servir 100 mil habitantes do Douro Sul, tem 30 camas oficiais com uma taxa média anual de ocupação de 145%. Todos os dias há doentes internados nos corredores.
Os problemas não se cingem ao internamento e há alguns que são transversais às unidades de Vila Real e Chaves que também integram o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD). Concretamente em Lamego, o JN sabe que faltam especialistas em Radiologia, Medicina Interna, Cirurgia Geral, Ortopedia, Anestesiologia, Ginecologia e Obstetrícia. Há apenas um pediatra para apoio ao serviço de Urgência e Consulta Externa. De acordo com fontes ouvidas, seriam necessários sete para evitar a transferência de crianças para Vila Real.
O serviço de Radiologia funciona duas vezes por semana com o apoio de especialistas do Hospital de Vila Real. Não existe equipamento para fazer TAC, o que significa que todos os doentes que tenham necessidade de realizar o exame têm de fazer 40 quilómetros.
“A constituição dos centros hospitalares tende a favorecer os grandes hospitais e a esvaziar os mais pequenos. Acontece por todo o país, com prejuízo para as populações que estão a perder cuidados básicos de proximidade”, nota o presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos. Em Lamego, é mais grave. Os utentes – idosos e com problemas financeiros – não têm transporte público até Vila Real, realça Miguel Guimarães.
Exames e consultas
A população não esconde a insatisfação e há muitas saudades do antigo hospital. Maria Monteiro, 78 anos, está entre os descontentes: “Então aquele hospital vale alguma coisa? Nem se compara ao velho. Tinham-no renovado e mantinham os bons médicos que cá tínhamos”.
A falta de médicos é a principal queixa, a que se junta a demora nos exames e consultas. É uma posição comum a muita gente da região, garante José Pessoa, membro da estrutura do PCP de Lamego e Tarouca e um dos que mais vezes têm vindo à praça pública denunciar os problemas do hospital novo, que custou 42 milhões de euros, e onde “todos os dias há 15 pessoas espalhadas pelos corredores”.
Segundo José Pessoa, a falta de um equipamento para fazer TAC “fez com que no ano passado 1750 pessoas fossem fazer o exame ao hospital de Vila Real. O custo do transporte num ano é muito superior ao da instalação do aparelho em Lamego”.
Questionada pelo JN, a administração do CHTMAD admite que a ocupação das camas é superior a 100%, mas lembra que os números reportam às camas oficiais, havendo mais 10 que estão abertas desde o inverno do ano passado. Refere ainda que não foi a atual direção que definiu o modelo funcional do Hospital de Lamego, com forte aposta na cirurgia de ambulatório, e que lhe cabe apenas respeitar o modelo implementado e “rentabilizar todo o equipamento posto à disposição dos profissionais e utentes da região”.
Sobre a falta de médicos, limita-se a afirmar que os hospitais que integram o Centro Hospitalar não têm de ter quadros de especialistas. A resposta às necessidades e a distribuição dos médicos pelas três unidades são feitas pelo diretor de serviço da respetiva especialidade. Sobre a Radiologia, acrescentou que Vila Real tem um especialista 24 horas por dia para validar os exames de todos os hospitais.
EM 2014, 1750 DOENTES TIVERAM DE IR A VILA REAL FAZER UMA TAC