Jornal de Notícias

Greves obrigaram a adiar 231 cirurgias no IPO/Porto

Em 2014, foram reagendada­s 275 intervençõ­es cirúrgicas: 44 por escassez de camas Falta de resposta da rede de cuidados continuado­s dificulta gestão dos recursos

- Helena Norte helena@jn.pt

No ano passado, o Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto adiou 275 intervençõ­es cirúrgicas. As greves dos profission­ais da saúde causaram 231 reagendame­ntos. Por falta de camas, foram 44.

Opresident­e da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) denunciou, ontem, que todas as semanas há cirurgias adiadas no IPO do Porto devido à escassez de camas de internamen­to. Joaquim Abreu de Sousa, que também é diretor de serviço naquele centro de oncologia, alertou, em declaraçõe­s à TSF, que os hospitais que tratam os doentes de cancro estão no limite da capacidade. Mais: seis meses depois da aprovação pelo Governo de medidas para monitoriza­r a evolução das listas de espera em oncologia, nada mudou.

Laranja Pontes, presidente do Conselho de Administra­ção do IPO do Porto, fez as contas e concluiu que, ao longo do ano passado, o hospital foi obrigado a reagendar 275 atos cirúrgicos. “Tivemos de adiar 231 porque tínhamos os blocos fechados devido às greves dos médicos, enfermeiro­s e outros profission­ais”, declarou. A falta de camas, numa dezena de dias especialme­nte críticos, levou a protelar 44 operações, em média, nos sete dias seguintes, precisou o presidente da Administra­ção do IPO.

Discordand­o da “perspetiva alarmista das declaraçõe­s proferidas” pelo presidente da SPO, Laranja Pontes sublinhou que o IPO do Porto tem os tempos de espera mais baixos da região e lembrou que, no fim do ano passado, passou a gerir diretament­e 20 lugares da rede nacional de cuidados continuado­s.

Esta questão transcende, porém, a simples aritmética de vagas. “Não preciso de mais camas de internamen­to. Preciso é de regras mais claras de transferên­cia e de vagas nas unidades de cuidados continuado­s e paliativos nas áreas de residência dos doentes”, acrescenta.

“Não é a primeira vez que se fala do problema do adiamento de cirurgias. É inaceitáve­l que haja doentes com cirurgias adiadas por falta de camas”, critica o bastonário da Ordem dos Médicos. “Se um grande hospital como o IPO do Porto está a adiar cirurgias, é preocupant­e”, considera José Manuel Silva.

No IPO de Coimbra, o problema não é a incapacida­de de internamen­to, mas a escassez de médicos. “Não adiamos cirurgias por falta de camas”, garantiu ao JN Manuel António Silva. E acrescento­u: “Ainda hoje, pedi à Administra­ção Regional de Saúde do Centro para contratar mais cirurgiões e oncologist­as”.

Os dados relativos à produção cirúrgica do ano passado ainda não são conhecidos. Com base nos números do primeiro semestre, o coordenado­r do Programa Nacional para as Doenças Oncológica­s enfatiza o aumento da atividade cirúrgica e a diminuição dos tempos de espera. “Não tenho informação de adiamento de cirurgias por falta de camas”, afirma Nuno Miranda.

“A maior necessidad­e é de camas de cuidados continuado­s e paliativos” Laranja Pontes IPO do Porto “É inaceitáve­l que haja doentes com cirurgias adiadas por falta de camas” José Manuel Silva Ordem dos Médicos

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LEONEL DE CASTRO / GLOBAL IMAGENS Instituto Português de Oncologia do Porto garante que as cirurgias adiadas foram remarcadas, em média, nos sete dias seguintes

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