Jornal de Notícias

ESPANHOL É MORTO NA CELA E COLEGA TENTA SUICIDAR-SE

Suspeito de tráfico de droga terá sido asfixiado na cadeia de Lisboa Colega cabo-verdiano, preso por homicídio, internado com golpe no pescoço

- Reis Pinto * rpinto@jn.pt COM ALEXANDRE PANDA E NELSON MORAIS

Um espanhol, de 28 anos, foi encontrado morto, ontem de manhã, numa cela do Estabeleci­mento Prisional de Lisboa. O colega de cárcere tentou degolar-se pouco tempo antes da abertura das celas.

Opreso espanhol, Manuel Rodriguez Colorado, natural de Sevilha, encontrava-se em prisão preventiva por tráfico de estupefaci­entes e estava a dias de conhecer a sentença. Há cerca de duas semanas, juntou-se-lhe na cela 76 do Estabeleci­mento Prisional de Lisboa (EPL) um cidadão cabo-verdiano, de 32 anos, de apelido Tavares, também em prisão preventiva, mas pelo crime de homicídio.

Sem que houvesse registo de incidentes entre os dois homens, ontem, cerca das 8 horas, o guarda prisional que abriu a porta da cela, situada na Ala E, viu o cidadão espanhol na cama, já sem sinais de de vida nem ferimentos visíveis – suspeita-se que terá sido asfixiado com uma almofada –e o colega de cela com a garganta cortada com um objeto de fabrico artesanal. Um golpe tão profundo que deixava ver a traqueia.

“O ferimento tinha aspeto de ter sido infligido pouco tempo antes da abertura da porta. O guarda prisional, que não dispõe de um simples rádio, teve de fechar a porta da cela, correr até ao topo da ala e avisar o responsáve­l daquela área. Por sua vez, este apenas pôde ligar para a chefia, que acionou a enfermaria e o INEM”, contou, ao JN, Jorge Alves, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional.

Os socorros médicos demoraram cerca de 10 minutos. Já nada havia a fazer pelo recluso espanhol e a atenção dos profission­ais de saúde virou-se para Tavares, suspeito de um homicídio num hotel de luxo em Lisboa, em novembro. O preso foi transporta­do, em estado muito grave, para um hospital de Lisboa, onde se encontra internado sob custódia policial.

Jorge Alves, que sublinhou não serem conhecidas as causas da morte do recluso espanhol, notou que no EPL há reclusos em prisão preventiva, outros já a cumprir pena e de diversas nacionalid­ades.

“Não há um estudo sério sobre os reclusos. Metem-nos nas celas sem critério e esperam que tudo corra bem. Apesar de não sabermos o que provocou a morte do cidadão espanhol, no ano passado um recluso com problemas do foro psíquico matou outro à paulada. E somos menos de 200 guardas para cerca de 1300 reclusos”, comentou o dirigente sindical.

A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) referiu que o EPL tem 220 guardas e que “seis serviços de ronda, efetuados durante a noite, não registaram qualquer ocorrência ou pedido de ajuda, nem foram afetados pela greve decretada pelo Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional”.

Na prisão, estiveram a PSP e a Polícia Judiciária e, segundo fonte da DGRSP, irá decorrer um processo de averiguaçõ­es interno a cargo do Serviço de Auditoria e Inspeção daquela direção-geral.

“Recluso terá cortado a gargante pouco tempo antes da abertura da porta da cela”

Jorge Alves Presidente do SNCGP

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THOMAS MEYER / GLOBAL IMAGENS Suspeita de homicídio e tentativa de suicídio ocorreu na cela 76 do EP de Lisboa
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