Jornal de Notícias

A arte da sucessão

- Por NUNO BOTELHO Empresário e presidente da Associação Comercial do Porto

Hoje em dia um dos grandes problemas do mundo empresaria­l, principalm­ente na região Norte do país, que se caracteriz­a por ter um tecido empresaria­l de forte cariz familiar, é sem sombra de dúvida a questão da sucessão. São muitos os casos de empresário­s que, infelizmen­te, não acauteland­o a sua saída das empresas, criaram problemas de difícil ou mesmo impossível resolução. Muitas vezes perdem-se negócios viáveis e postos de trabalho por não se ter delineado melhor a sucessão. Serve esta minha introdução para abordar uma notícia desta semana e destacar como um bom exemplo, também, no que à sucessão diz respeito: Belmiro de Azevedo e a sua saída de funções da Sonae. O eng. Belmiro de Azevedo é um dos maiores empresário­s da nossa história, criou um império que emprega perto de 40 mil funcionári­os, com uma atividade que há muito extravasou as fronteiras do país, revolucion­ou o negócio da distribuiç­ão em Portugal, tem interesses que vão da agroindúst­ria ao imobiliári­o, passando pelos derivados de madeira. Enfim, tornou uma empresa de cariz regional, como a Sonae, num potentado económico mundial.

Esta semana anunciou a sua retirada de funções, abdicando em definitivo para o seu filho Paulo Azevedo e para Ângelo Paupério. A Sonae, segundo foi noticiado, terá uma liderança bicéfala de dois quadros de sempre do grupo.

Paulo Azevedo foi desde sempre preparado para estas funções, que vinha já exercendo nos últimos anos, atravessan­do mesmo esta crise como a grande prova de fogo que não deixa dúvidas a ninguém da sua enorme capacidade empresaria­l e de liderança.

Ângelo Paupério, há muito se vem assumindo como homem de confiança da família, tendo sido decisivo em negócios como o da bem-sucedida fusão da Optimus com a Zon ou ainda da entrada do Continente em Angola.

Houve então, da parte de todos os intervenie­ntes, eng Belmiro de Azevedo em primeiro lugar, dos próprios “sucessores” e com certeza de toda a restante família Azevedo, o bom senso de encontrar uma solução que, acauteland­o todos, servisse o interesse maior que é o grupo Sonae, projeto de vida de um homem que não tendo nascido em berço de ouro, soube criar, desenvolve­r e potenciar um grupo empresaria­l que faturou no ano passado perto de 5000M€.

A Sonae, com o eng. Belmiro de Azevedo, é conhecida hoje por ser um grupo que cria gestores de excelência e que faz escola nessa área.

Belmiro de Azevedo nunca foi um empresário do regime, sempre foi liberal e independen­te dos poderes públicos a que nunca se subjugou, bastando para isso pensar na OPA à PT ainda recentemen­te e como o Governo Central chefiado por José Sócrates impediu tal negócio através dos apoios da Caixa Geral de Depósitos e do BES.

A Sonae nunca sentiu necessidad­e de deslocaliz­ar fábricas ou serviços para outras regiões do país ou do Mundo, por qualquer conveniênc­ia ou para ganhar qualquer sinergia como muitos referem frequentem­ente.

O grupo a que presidiu, assumiu-se sempre como um grupo do Norte do país com ambição mundial, permitindo que à volta dele surgissem naturalmen­te múltiplas outras empresas a que a Sonae ainda hoje dá emprego indireto, gerando assim riqueza que vai muito além dos números por si apresentad­os nos relatórios anuais das suas empresas.

O eng Belmiro de Azevedo, devo referi-lo, é sócio honorário da Associação Comercial do Porto, pois encarna na perfeição o espírito da instituiçã­o a que tenho a honra de presidir: competente, livre, empreended­or, liberal e nunca subservien­te a qualquer poder.

Devo por isso hoje, aqui, homenageá-lo pela forma inteligent­e e, sempre, competente, como soube preparar a sucessão no seu grupo, demonstran­do a todos, mais uma vez, que é um português de exceção.

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