A “revolução” do Papa aos olhos da Igreja portuguesa
Faz hoje dois anos que “os cardeais foram procurar o novo pontífice no fim do mundo” Bispos portugueses destacam um Papa “reformador” que “está a transportar o Mundo”
O Papa não se tem ficado pelos gestos afáveis e palavras assertivas que têm conquistado crentes e não crentes. Na Igreja Católica, há quem diga que, nos dois anos de pontificado, já promoveu um autêntica “revolução”.
Éum estilo novo que está a interpelar o Mundo e a própria Igreja Católica. Quando, a 13 de março de 2013, surgiu na varanda da Basílica de São Pedro, em Roma, com uma cruz de ferro ao peito, ao contrário do ouro usado pelos seus antecessores, Francisco estava a dar um sinal de mudança. Dois anos depois, as reformas já introduzidas na Cúria, os gestos e as palavras espalhados pelo Mundo, a luta contra a indiferença global, a abertura à discussão de temas tabu e a intolerância com comportamentos reprováveis, como a pedofilia, vieram provar que a opção pela cruz de metal não foi ao acaso.
O Papa avisou bispos e cardeais que os queria “pastores no terreno” e não “príncipes da Igreja” e, a pouco e pouco, foi abrindo as portas a uma instituição tradicionalmente e hierarquicamente fechada sobre si própria. Hoje, são comuns as referências à necessidade de “uma Igreja em saída”, mais missionária.
“Revolução evangélica”
Para D. António Marto, bispo da diocese Leiria-Fátima, Francisco está a promover uma verdadeira “revolução evangélica” na Igreja e na Humanidade. A “simplicidade, a proximidade, a vontade de agir em favor dos mais frágeis e de uma economia solidária e inclusiva”, o desafio lançado à Igreja “para ir ao encontro das periferias, a reforma das instituições para que haja mais verdade e transparência, a valorização do lugar da mulher na Igreja” e o “impulso dado ao ecumenismo e diálogo inter-religioso” tornam-no um “Papa reformador e personalidade ímpar”.
“O Papa Francisco está a transportar o Mundo, com as suas realidades concretas, para dentro da Igreja. Ele apostou na pastoral da saída e, paradoxalmente, apresentou a Igreja como uma companheira nos momentos mais frágeis do homem e uma voz profética contra a negação da dignidade humana. Em Portugal, a assimilação deste estilo vincadamente humano começa a dar os seus sinais. Admito, todavia, que possa demorar algum tempo a impor-se”, disse o arcebispo primaz de Braga, D. Jorge Ortiga.
O bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, partilha da mesma opinião. Para ir ao encontro das novas propostas, é preciso “vencer muita ignorância nas convicções de fé, rotinas no campo pastoral e medos no âmbito das intervenções sociais”.
Com ou sem dificuldades, uma coisa é certa para D. António Marto, que é também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa: o que o Papa propõe “é um caminho claro, sem margem para dúvidas, que vai exigir despojamento e criatividade, mas já começamos a percorrê-lo entre nós”.
“Se uma pessoa é homossexual e procura Deus, quem sou eu para julgá-la?”.
20-07-2013 “Os chefes da Igreja foram, muitas vezes, narcisistas. A Cúria é a lepra do papado”.
01-10-2013 “Devemos ser muito duros [com crimes de pedofilia praticados por alguns padres]! Com as crianças não se brinca”.
11-04-2014
PAPA FRANCISCO