Jornal de Notícias

Menores acusados de inventar maus-tratos

Centro Juvenil de Campanhã Funcionári­os negam tudo em tribunal, denunciam ex-trabalhado­ra e dizem que menores foram influencia­dos

- Nuno Miguel Maia nunomm@jn.pt

Arguidos dizem aos juízes que menores ameaçaram provocar despedimen­tos no centro

Os menores internados no Centro Juvenil de Campanhã, polo de Vila do Conde, queixosos de maustratos por parte dos funcionári­os e dos diretores da instituiçã­o, terão feito as denúncias “influencia­dos por alguém” e por vingança pelo facto de ouvirem dizer “não” aos seus desejos. Esta foi a versão apresentad­a pelos arguidos ontem interrogad­os, no início do julgamento no Tribunal de Matosinhos.

“Desde que Manuela Brito [exfuncioná­ria] foi mandada embora que houve uma revolução com os miúdos. Era o que todos concluíamo­s nas reuniões. Ela dizia que queria fechar o lar, seja de que maneira for”, contou Nélson Santos, que em 2013 era vigilante e atualmente já não trabalha na instituiçã­o. Negou a prática de todos os crimes imputados na acusação. “São miúdos que me dizem muito. Fiquei abismado quando soube destas acusações”, acrescento­u.

Também desemprega­dos declararam-se outros quatro arguidos, acusados de maus-tratos sobre menores com idades entre 10 e 16 anos e que estiveram suspensos de funções, por ordem do juiz.

Entre as práticas de maus-tratos imputadas aos arguidos – quatro auxiliares de ação educativa, um educador social, uma psicóloga e dois diretores –, estão insultos, bofetadas que fizeram sangrar, pontapés, puxões de orelhas, “cachaços” no pescoço, empurrões contra a parede, tarefas de limpeza das instalaçõe­s durante várias horas e até de madrugada, privação de uma refeição diária (por norma, a ceia), proibição de os rapazes telefonare­m aos pais e de visitarem a família ao fim de semana.

Por ter recusado cantar numa festa de Natal, uma das vítimas terá sido punida com um corte forçado de cabelo. Outro jovem terá sido obrigado a abrir e fechar valas num terreno. Estes castigos, considerad­os excessivos, terão sido a resposta a recusas de ordens ou a supostos atos de mau comportame­nto.

Nenhum dos arguidos ontem interrogad­os assumiu os maus-tratos. “Tratei-os como meus filhos. Mas, a certa altura, se disséssemo­s ‘não’, eles diziam: ‘vais ver, já foste, vais embora, vou despedir-te como despedi os outros’”, relatou Décia Saraiva, ex-auxiliar, acusada de insultar os meninos.

Suspeitos são ainda Maria Conceição Martins, diretora pedagógica da instituiçã­o, e Fausto Ferreira, presidente da mesa administra­tiva e gestor do centro. Fausto é acusado de agredir os menores. Já Maria Conceição é acusada de ter insultado e esbofetead­o crianças. Perante a recusa de um menino em cantar, ordenou o corte de parte do cabelo contra a sua vontade, na presença de todos. A diretora pedagógica vai ser interrogad­a depois de amanhã, na segunda sessão do julgamento.

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Conceição Martins e Fausto Ferreira eram os responsáve­is do centro juvenil
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Auxiliares de ação educativa negaram maus-tratos às crianças internadas

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