Menores acusados de inventar maus-tratos
Centro Juvenil de Campanhã Funcionários negam tudo em tribunal, denunciam ex-trabalhadora e dizem que menores foram influenciados
Arguidos dizem aos juízes que menores ameaçaram provocar despedimentos no centro
Os menores internados no Centro Juvenil de Campanhã, polo de Vila do Conde, queixosos de maustratos por parte dos funcionários e dos diretores da instituição, terão feito as denúncias “influenciados por alguém” e por vingança pelo facto de ouvirem dizer “não” aos seus desejos. Esta foi a versão apresentada pelos arguidos ontem interrogados, no início do julgamento no Tribunal de Matosinhos.
“Desde que Manuela Brito [exfuncionária] foi mandada embora que houve uma revolução com os miúdos. Era o que todos concluíamos nas reuniões. Ela dizia que queria fechar o lar, seja de que maneira for”, contou Nélson Santos, que em 2013 era vigilante e atualmente já não trabalha na instituição. Negou a prática de todos os crimes imputados na acusação. “São miúdos que me dizem muito. Fiquei abismado quando soube destas acusações”, acrescentou.
Também desempregados declararam-se outros quatro arguidos, acusados de maus-tratos sobre menores com idades entre 10 e 16 anos e que estiveram suspensos de funções, por ordem do juiz.
Entre as práticas de maus-tratos imputadas aos arguidos – quatro auxiliares de ação educativa, um educador social, uma psicóloga e dois diretores –, estão insultos, bofetadas que fizeram sangrar, pontapés, puxões de orelhas, “cachaços” no pescoço, empurrões contra a parede, tarefas de limpeza das instalações durante várias horas e até de madrugada, privação de uma refeição diária (por norma, a ceia), proibição de os rapazes telefonarem aos pais e de visitarem a família ao fim de semana.
Por ter recusado cantar numa festa de Natal, uma das vítimas terá sido punida com um corte forçado de cabelo. Outro jovem terá sido obrigado a abrir e fechar valas num terreno. Estes castigos, considerados excessivos, terão sido a resposta a recusas de ordens ou a supostos atos de mau comportamento.
Nenhum dos arguidos ontem interrogados assumiu os maus-tratos. “Tratei-os como meus filhos. Mas, a certa altura, se disséssemos ‘não’, eles diziam: ‘vais ver, já foste, vais embora, vou despedir-te como despedi os outros’”, relatou Décia Saraiva, ex-auxiliar, acusada de insultar os meninos.
Suspeitos são ainda Maria Conceição Martins, diretora pedagógica da instituição, e Fausto Ferreira, presidente da mesa administrativa e gestor do centro. Fausto é acusado de agredir os menores. Já Maria Conceição é acusada de ter insultado e esbofeteado crianças. Perante a recusa de um menino em cantar, ordenou o corte de parte do cabelo contra a sua vontade, na presença de todos. A diretora pedagógica vai ser interrogada depois de amanhã, na segunda sessão do julgamento.