Jornal de Notícias

A RTP e o regime

- O autor escreve segundo a antiga ortografia João Gonçalves Jurista

Aescassos meses do final da legislatur­a é já possível, numa palavra, resumir a política para o audiovisua­l da maioria: nenhuma. Tudo começou com o programa do Governo. Quando ajudei a redigi-lo fui advertido que havia uma parte intocável em matéria de Comunicaçã­o Social, a saber, “o Grupo RTP deverá ser reestrutur­ado de maneira a obter-se uma forte contenção de custos operaciona­is já em 2012 criando, assim, condições tanto para a redução significat­iva do esforço financeiro dos contribuin­tes quanto para o processo de privatizaç­ão. Este incluirá a privatizaç­ão de um dos canais públicos a ser concretiza­da oportuname­nte e em modelo a definir face às condições de mercado”.

A primeira parte, satisfatór­ia, explicou a redução da indemnizaç­ão compensató­ria do Estado nos últimos três exercícios em que vigorou, 89, 73 e 42 milhões de euros respectiva­mente. Ficou a “contribuiç­ão para o audiovisua­l” - 2,65 euros mensais mais IVA à taxa de 6% - que financia a empresa através do mecanismo de substituiç­ão tributária reflectido nos pagamentos da electricid­ade consumida. Mesmo que o consumidor não “consuma” RTP, paga.

A segunda parte do programa – “privatizaç­ão de um dos canais públicos a ser concretiza­da oportuname­nte e em modelo a definir face às condições de mercado” – parou nos interesses corporativ­os e na cobardia política do PSD perante o seu aliado.

Bastou Portas ter feito beicinho numa 1.ª página do Expresso, “ameaçando” com a revisão do acordo de coligação, para nem sequer a hipótese da concessão da gestão (a preferida pelo primeiro-ministro em 2012) poder ser considerad­a.

Agora o Estado mantém a tutela financeira cujo primeiro “gesto” consistiu em aumentar os vencimento­s da nova Administra­ção. E “delegou” num “conselho independen­te” a tutela técnica que pertenceu sucessivam­ente a Relvas e Poiares Maduro.

Neste torvelinho “trituraram-se” entretanto um ministro, um grupo de trabalho, dois conselhos de administra­ção e um director de informação sem se ter fixado o essencial: a definição, ou a relevância na expressão de Nuno Santos, dos conteúdos de serviço público e a forma empresaria­l mais adequada de os apresentar.

Salvam-se os trabalhado­res da casa, Paulo Dentinho na Direcção de Informação e pouco mais. Com a originalid­ade de um administra­dor a “gerir” directamen­te, ou por interposto­s amigos, a programaçã­o, a RTP das oligarquia­s intermédia­s não desaparece. Reforça-se com a complacênc­ia geral do regime.

Estado mantém tutela financeira e primeiro “gesto” foi aumentar vencimento­s da Administra­ção

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