“Já foste lá acima espremer as mamas?”
No Hospital de Santo Tirso, distrito do Porto, a prova de amamentação ou de evidência de leite é obrigatória há vários anos. “É prática comum e há muito tempo”, confirmou ao JN fonte ligada ao Centro Hospitalar do Médio Ave, ao qual pertence a unidade tirsense.
Os casos dos hospitais de S. João e de Santo António, no Porto, não surpreenderam, pois, os trabalhadores daquele hospital do Vale do Ave, “habituados” ao procedimento. “As pessoas precisam de pedir a redução do horário. E a verdade é que se vão sujeitando”, dizem.
Uma funcionária relatou ao JN a “ansiedade” e o “embaraço” por que passou. “Apesar de não ter medo da prova em si, porque estava mesmo a amamentar, ia ansiosa. Era o facto de ter de passar essa vergonha de tirar o sutiã, apertar o mamilo e mostrar que tinha leite. Era uma situação muito embaraçosa, apesar de ser à frente de uma médica. Era ridículo. Sentia-me mesmo ridícula quando ia lá fazer isso”, conta a mulher, que pediu para não ser identificada.
“Mas tinha de sujeitar-me, porque não sabia se era ou não de lei”, continua. “A gente chega a um ponto em que não sabe se é ou não obrigatório fazer. Mas se ela [quem solicita a prova] é médica do trabalho e a Administração lhe dá poder para fazer isso, pensei que fosse legal”, confessa a funcionária.
“Passado o tempo a que temos direito, a médica dizia: ‘Qualquer dia, vou chamá-la para provar que tem leite’. Ela não confiava na palavra do médico que passava o atestado, no próprio colega de trabalho”.
Mas talvez pior do que a prova, diz, era mesmo o estigma que pesava sobre ela. “As outras pessoas perguntavam-me: ‘ Já foste lá acima espremer as mamas?’ Era mesmo essa expressão que usavam. Ou mandavam bocas: ‘Já foste à ordenha?’”, recorda a trabalhadora, garantindo que a médica “nunca deu outra alternativa” a este método “obrigatório” para comprovar a amamentação. “Amamentar é uma coisa tão íntima, tão nossa e boa, e eu só pensava que ainda ia ter de deixar de amamentar porque não queria prestar aquela prova”, revelou a mulher.
Contactado pelo JN, o Centro Hospitalar do Médio Ave remeteu para hoje esclarecimentos sobre a questão.