Raízes valem mais do que o conforto
Porto Maioria dos moradores das ilhas aceita mudar de habitação, mas prefere casa renovada no mesmo local
O mapa das ilhas da Invicta surge pontilhado: 957 pontos à espreita nos tracejados das ruas que, em algumas zonas, se encavalitam sem transbordar. Embora o fenómeno das ilhas esteja presente em 14 das 15 antigas freguesias, há áreas do Porto com maior concentração de núcleos, onde o espírito comunitário é o modo de vida.
É assim em S. Vítor, na Bouça, em Silva Porto, na Lomba, em Azevedo de Campanhã, na Bonjóia, na Lapa... O enraizamento no local, a proximidade a comércio e serviços, o sossego e as relações de vizinhança figuram entre os principais atributos da localização e da habitação enunciados pelos moradores. Para Fátima, nascida Maria de Fátima Almeida, foi o tamanho da casa – também elogiado por 26,4% dos residentes inquiridos no estudo sobre as ilhas, apresentado anteontem, no Rivoli – que motivou a troca da Ribeira pela Lapa. É tudo pequeno: sala, cozinha, quarto com uma limpeza imaculada. Serve-lhe à medida e faz do sótão um quarto de vestir: seca a roupa, passa a ferro e penteia o cabelo, vigiando no espelho pendurado do teto.
Fatinha é uma privilegiada. Tem água quente e duche dentro de casa. Mais ninguém possui tal luxo na ilha. O polibã surge encaixado entre a banca e o frigorífico no quadrado reservado à cozinha. Para outros, sobra o sanitário e o duche coletivo servido com água fria no pátio. “Pago 150 euros de renda, mas a minha casa é das melhores. Só não gosto de ir à casa de banho lá fora. Os outros usam o balde, eu não me habituo”, remata, decisiva. Hesitação face a casa mais cara Todos desejam conforto. Mas a que custo? São gerações que conquistaram o direito ao centro, que fincaram raízes na terra de sempre, ainda que essa terra fique na extremidade do Porto, em Campanhã. São lugares que reconhecem e onde são reconhecidos. 60% dos residentes estão dispostos a mudar de casa. Só 24,8% o fariam se implicasse pagar mais pelo aluguer. E poucos optariam pelo bairro social. A maioria (60%) prefere ter casa reabilitada no local onde vive e 23,6%