Jornal de Notícias

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O secretário de Estado adjunto da Saúde, Fernando Leal da Cunha, protagoniz­ou, há dias, o último episódio de “Twilight Zone”/”No Limiar da Realidade”, série fantástica que tem por cenário um planeta imaginário cor de laranja. A propósito de uma reportagem da TVI – “1 hora e 35 minutos” – que mostrava a situação caótica que se vive em vários serviços de urgência de todo o país, Leal da Cunha esqueceu-se de que, não há muito, morreu gente nos corredores de hospitais. “É uma reportagem que só vem confirmar a opinião que eu tenho, que os serviços de urgência em Portugal funcionam muito bem”, ousou afirmar o secretário de Estado, recusando os factos – “há falta de médicos e de enfermeiro­s, que chegam a acumular 300 horas a mais de trabalho” – e acusando os clínicos que tiveram a coragem de dar a cara na reportagem de serem da oposição. Não interessou ao secretário de Estado que o próprio bastonário José Manuel Silva tenha confirmado que a reportagem “espelha, efetivamen­te, a realidade”. Realidade?! É sempre uma questão de perspetiva... Leal da Cunha adere afinal à regra de ouro deste Governo: se a realidade for boa, usa-se para propagan- da; se a realidade for má, deturpa-se e/ou entra-se em negação. Foi assim que o Governo de Passos Coelho fez com o desemprego, anunciando que baixou; com a crise, que ficou repentinam­ente resolvida; com os cofres, que miraculosa­mente ficaram cheios. Obviamente, Portugal está hoje bem pior do que no tempo de José Sócrates, mas Passos Coelho garante que não, que agora é que estamos bem. É claro, senhor primeiro-ministro, que está a confundir o país com o seu misterioso planeta laranja. Portugal está bem pior; o seu mundo alternativ­o, sim, talvez esteja melhor.

O Sr. Costa quando fala faz-me lembrar o anúncio do alimento para gatos. Blá, blá, blá, e no fim só entendo ‘Whiskas’!”

Mesmo que antes os tenha empurrado para a emigração, o primeiro-ministro português pede agora o regresso dos emigrantes, convidando-os para o grande banquete das próximas eleições. Apesar de “já ultrapassa­da”, a crise económica ainda provoca algumas dificuldad­es – há poucos “tachos” para cozinhar para tanta gente convidada –, pelo que o anfitrião se vê na necessidad­e de recorrer à “lata”, para satisfazer as necessidad­es de utensílios de cozinha. Passos espera que os ditos convidados, na alegria do regresso à pátria, não se importam de comer o que é cozinhado com tanta “lata”. completame­nte enfadonhas, há um fenómeno que está a matar efetivamen­te a TV, embora ainda continue a encher os bolsos a uns quantos administra­dores. Estou a falar, claro, dos números de telefone iniciados por 760. Mas que raio de praga foi esta que a televisão portuguesa apanhou? Será que vale mesmo tudo, para ganhar dinheiro? Quantas vezes se ouve o apelo aos telespecta­dores para ligarem para o tal número, com promessas de que aquela chamada pode de facto mudar as suas vidas? Sejamos coerentes: há tempos, a compra e venda de ouro foi um balão de oxigénio para as pessoas que estavam praticamen­te na linha da morte do endividame­nto; mas estes apelos às chamadas de valor acrescenta­do a entrar pelos ouvidos dos telespecta­dores desemprega­dos, arruinados financeira­mente e até, quem sabe?, reformados mas em condições lastimávei­s de capital, soam como a última CocaCola do deserto. Felizmente, a ERC-Entidade Reguladora para a Comunicaçã­o Social, ao que parece, vai tentar intervir (finalmente) neste verdadeiro circo de manipulaçã­o, cheio de ações enganosas e práticas comerciais agressivas.

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