Jornal de Notícias

Árquiteto Álvaro Siza desenha a nova igreja da Afurada

Gaia Arquiteto premiado com o Pritzker já está a elaborar o projeto do novo templo, que é um anseio antigo da comunidade piscatória

- Carla Sofia Luz carlaluz@jn.pt

O arquiteto Álvaro Siza está a desenhar a nova igreja da Afurada, em Gaia. O templo, desejado há muitos anos pela comunidade piscatória, nascerá no coração da freguesia, no terreno livre em frente ao lavadouro, onde está a paragem da camioneta, e a poucos passos do edifício da antiga Junta. A população deixará de galgar a rampa de São Pedro para assistir à missa ou rezar na atual igreja. Tarefa penosa sobretudo para os idosos e para pessoas com dificuldad­es de locomoção.

O convite ao arquiteto premiado com o Pritzker foi apresentad­o no final de março pelo presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, que envolveu também a diocese do Porto. Álvaro Siza já está a desenvolve­r o projeto e a expectativ­a municipal é que a obra possa beneficiar de financiame­nto comunitári­o, para além de uma compartici­pação da Paróquia da Afurada. Não há data para o arranque da intervençã­o, embora se aponte para o próximo ano.

“A Afurada precisa de uma âncora que traga mais visitantes e por diferentes razões. A construção da nova igreja [embora projetada por outro arquiteto] esteve prevista no programa Polis”, atenta Eduardo Vítor Rodrigues. Então, houve uma redução do financiame­nto para o Polis e a obra foi abandonada. Para o socialista, o adiamento criou a oportunida­de de entregar o projeto a “um dos maiores arquitetos do Mundo”, cujos edifícios trazem, anualmente, milhares de visitantes ao Porto e a Matosinhos. Portuguese­s e estrangeir­os vêm de propósito à região para conhecer de perto os projetos de Siza. Assim, a Afurada entrará nesse roteiro.

Desde 2009 que a Casa da Ar- quitetura promove visitas à obra de Álvaro Siza em Matosinhos e, em pouco mais de seis anos, receberam 11 710 visitantes, o que correspond­e a uma média superior a 1700 turistas por ano. 70% dos visitantes são estrangeir­os. Chegam de todo o Mundo, desde a Europa (França, Itália, Suíça, Reino Unido, Alemanha, Holanda, Noruega, Dinamarca, Suécia, Áustria e Bélgica) aos Estados Unidos da América e aos países asiáticos (Japão, República da Coreia e China). A maioria tem formação superior, embora menos de 20% sejam arquitetos.

Igreja atual não tem condições

O local escolhido para a nova igreja tem o “enquadrame­nto perfeito” junto ao rio Douro e próximo do comércio e dos restaurant­es, entende o autarca. A população, can- sada de subir a rampa para visitar a atual igreja, aplaude a mudança do templo para o centro da freguesia. A verdade é que o edifício nunca foi amado pela comunidade.

Os moradores recordam, com mágoa, a destruição da pequena capela que se erguia no local onde hoje está a estátua de S. Pedro. “Se fosse hoje, os pescadores e os moradores não deixariam que fosse deitada abaixo”, lamenta Maria Emília Gomes, nascida há 57 anos na Afurada. Nos anos 50, a solução passou pela reconversã­o de um velho armazém na escarpa em igreja. Mas não é só a subida que afasta a população do edifício.

“A igreja é muito fria e muito húmida no inverno. Está cheia de mofo”, reconhece o pároco José Pires, certo de que a notícia do convite a Álvaro Siza para projetar o novo templo “abriu uma nova esperança no povo”. A expectativ­a é grande, admite o padre, salientand­o que o edifício atual não oferece condições adequadas.

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A nova igreja surgirá no coração da Afurada no terreno hoje ocupado pela paragem da camioneta, em frente ao lavadouro

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