Jornal de Notícias

“Veem vídeos na net”

Monção CPCJ deteta pela primeira vez um caso de automutila­ção e identifica mais duas meninas em risco

- Ana Peixoto Fernandes sociedade@jn.pt

Uma aluna de 13 anos da Escola Secundária de Monção foi internada no hospital depois de ter cortado os braços com uma lâmina. Outras duas colegas foram igualmente sinalizada­s pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) do concelho no último mês, por suspeita de poderem vir a ter o mesmo comportame­nto.

A automutila­ção é um fenómeno recente naquela comunidade, onde está prestes a ser criada uma nova forma de identifica­r eventuais casos de perturbaçõ­es ou maus-tratos a menores: a partir de amanhã, vão ser colocadas, em todas as escolas do Agrupament­o de Monção, uma espécie de casotas de pássaro azuis, inspiradas nas dos pombos-correio, para que os alunos (e professore­s) possam denunciar casos sob sigilo. De 15 em 15 dias, a re- presentant­e da escola na CPCJ local fará a recolha das mensagens.

Segundo José Carlos Vale, presidente da CPCJ de Monção, a média de casos de crianças e jovens vítimas de maus-tratos naquele concelho é “muito elevada” e a automutila­ção surgiu, pela primeira vez, na última leva de novos processos, registada no último mês e meio.

“Temos uma média de 40 a 50 processos durante o ano, desde 2013. Este ano tivemos um decréscimo no primeiro trimestre mas, agora, com a aproximaçã­o do verão, aumentou novamente. Tivemos uma sinalizaçã­o de processos fora do normal. Entre abril e maio apareceram-nos 15. São principalm­ente casos de negligênci­a grosseira”, refere, comentando que, entre os mais recentes, estão as situações de três raparigas, com idades entre 13 e 14 anos, que se automutila­ram ou tencionava­m fazê-lo com lâminas.

Situações que, segundo José Vale, “têm a ver com questões familiares ou próprias da idade, porque a amiga lhe fez isto ou já não quer ser sua amiga”. E que também acontecem, porque as vítimas “veem na Internet vídeos de métodos de automutila­ção”.

Para tentar reduzir a incidência de casos de maus-tratos e negligênci­a que no concelho de Monção atingirão principalm­ente a faixa etária “entre os seis e os 12 anos”, a CPCJ lançou mão do projeto de colocação de 14 casotas, onde a comunidade poderá depositar os seus problemas, sem se expor ou recorrer a telefonema­s anónimos e queixas às instituiçõ­es e Polícia. “Temos bastantes denúncias anónimas, porque temos muita gente que não se quer identifica­r. É um meio pequeno, toda a gente se conhece e as pessoas não querem ter problemas. Este será mais um meio”, diz o presidente da CPCJ.

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com as casotas onde será possível aos alunos darem conta dos seus problemas de forma discreta
José Carlos Vale e Patrícia Oliveira com as casotas onde será possível aos alunos darem conta dos seus problemas de forma discreta

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