Jornal de Notícias

Desemprega­dos devem ser apoiados pela UE

- Luís Reis Ribeiro luis.ribeiro@dinheirovi­vo.pt

Os trabalhado­res devem ter uma conta individual onde acumulam direito à indemnizaç­ão em caso de despedimen­to. Essa compensaçã­o deve ser financiada pela empresa, mas também receber uma ajuda dos fundos estruturai­s europeus, uma vez que o fator trabalho é um investimen­to. A ideia foi defendida por Tito Boeri, um dos economista­s convidados para falar no Fórum BCE, na Penha Longa, em Sintra, onde, durante três dias, 150 das mais influentes personalid­ades do mundo da política monetária debateram o desemprego e a baixa inflação na Europa.

Tito Boeri, professor da Universida­de de Bocconi e consultor de instituiçõ­es como a Comissão Europeia e o FMI, tem várias soluções em mente sobre como descer o desemprego. Uma delas passa por criar novas instituiçõ­es do mercado laboral, como a figura do equivalent­e ao contrato único (defendida em Portugal por Mário Centeno, o economista do Banco de Portugal que coordenou o programa económico para o PS).

Boeri chama-lhe “contrato de oportunida­des iguais”, um contrato “sem termo no qual uma ‘indemnizaç­ão otimizada indexada à antiguidad­e e com base numa conta individual” do trabalhado­r. Deu como exemplo, o que já acontece com os fundos criados na Áustria e em Itália. A nova instituiçã­o do mercado laboral seria só para “novos contratos”.

As empresas seriam responsáve­is por alimentar a conta individual do empregado (algo que já está previsto na lei portuguesa, mas com pouca eficácia ainda), mas os fundos europeus também teriam um papel de apoio. O economista italiano vê margem para que as “contribuiç­ões europeias” complement­em esse fundo que financia os despedimen­tos. Podia ser com o apoio dos “fundos estruturai­s, do Fundo Social Europeu”.

Se este ideia ainda está numa fase seminal, o mesmo não acontece com a proposta do subsídio de desemprego europeu, que tem ganho uma vaga de fundo, mesmo entre as elites alemãs.

Boeri defende esse esquema europeus, também ele baseado em contas individuai­s e com cláusulas de salvaguard­a para que um país não tenha de financiar o desemprego de outro Estado membro. Os alemães ficarão satisfeito­s.

Uma segunda proposta acompanha uma ideia ventilada por Mario Draghi na véspera - usar os sistemas de pensões como “estabiliza­dores” da economia.

Boeri defende que a idade de reforma deve ser variável de acordo com as condições da economia. “Os sistemas de contribuiç­ão definida devem permitir alguma flexibilid­ade sustentáve­l na idade de reforma”, disse.

A audiência de mais de uma centena de economista­s e decisores do Fórum BCE foi consultada sobre se as reformas do mercado laboral devem ser sincroniza­das com a gestão da procura agregada (mais flexibilid­ade quando a economia precisa de crescer, por exemplo). O sim ganhou com maioria absoluta (58%). O não ficou com 36% e 6% disse não ter opinião.

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