STCP Autocarros perdem 34 milhões de passageiros
Empresa pública assume que uma das principais causas da quebra é o incumprimento de horários por falta de motoristas
A Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) perdeu cerca de 34 milhões de passageiros em quatro anos. Desde 2011 que a sangria não estanca e o ano passado não foi exceção. De 2013 para 2014, quase seis milhões deixaram de subir aos autocarros, porque os horários não foram cumpridos. A culpa, admite a empresa, é da falta de motoristas. Agigantam-se as reclamações dos utentes e o número de viagens que ficaram por fazer por escassez de tripulantes. Houve seis vezes mais viagens perdidas no ano passado do que em 2011.
Há quatro anos, a STCP deixava de fazer pouco mais de 16 mil viagens num ano. Em 2013, essa perda cresceu para mais de 50 mil e, no ano passado, foi quase o dobro: atingiu os 98 851 serviços perdidos sem contar com greves e plenários. A empresa pública faz mea culpa no relatório e contas do ano passado. “Os problemas verificados na oferta com incumprimento de horários por défice de motoristas” é uma das “principais justificações” apontadas no documento para a sangria de utilizadores.
Basta assinalar que 79% das quase 99 mil viagens perdidas em 2014 foram por falta de motoristas, detetada logo no momento de distribuir os serviços. 13% ficaram a dever-se ao absentismo dos condutores. O incumprimento dos horários motivou 80% das reclamações dos passageiros. As queixas voltaram a aumentar em relação a 2013.
Afetada pela crise e desemprego
A concorrência também não ajuda. A STCP só circula em exclusivo no Porto. Com a adesão dos operadores privados que prestam serviço “nos principais eixos em que a STCP opera” em Gaia, na Maia, em Matosinhos, em Valongo e em Gondomar ao tarifário intermodal Andante, os passageiros já não têm de esperar pelos autocarros da empresa pública e podem seguir viagem, com o Andante, nas camionetas dos privados. A situação agrava-se quando a espera é longa: se os autocarros da STCP falham serviços e não aparecem, os clientes optam por outros meios.
A crise social, com o consequente desemprego na região, é a terceira razão. E é repetida nos relatórios anuais da STCP desde que as quebras de passageiros começaram há quatro anos, embora a crise não pareça afetar todos os operadores de igual modo. A taxa de desemprego no Norte, sempre superior à do país, passou de 14,5% em 2011 para 17,2% em 2013. No ano passado, baixou para 14,8%. A Metro do Porto só sentiu o abrandamento de validações em 2012. Nos anos anteriores e nos seguintes, esteve sempre a crescer, batendo recordes em 2014 com 56,9 milhões de clientes.
Subida de preços, linhas cortadas
A verdade é que os quatro anos em que a STCP perdeu quase 34 milhões de passageiros corresponderam ao período em que o preço dos bilhetes subiu 26% (só, em 2011, houve dois aumentos de 4,5% e de 15% em janeiro e em agosto) e o serviço prestado reduziu-se substancialmente com extinção de linhas e corte de horários e de frequências.
Essa diminuição está patente no número de quilómetros feitos pelos autocarros. Passaram de 28,6 milhões em 2011 para 21,8 milhões em 2014. A política de redução prosseguirá com a subconcessão da operação da STCP a privados. No caderno de encargos do concurso público, o limite máximo de quilómetros a contratualizar com o consórcio Moventis/TMB (que ganhou o concurso) é de 20,7 milhões.