Novelas e Ronaldo seduzem georgianos
É um sítio tão agradável! Cheio de gente boa e com bom tempo. Nunca me senti tão segura numa cidade como em Tbilisi” Vera Peixoto Professora de Português
Confrontada, há dois anos, com o convite para lecionar Português na Geórgia, Vera Peixoto confessa que não decidiu em três tempos. “Tive de refletir porque a realidade deste país era, aos meus olhos, muito diferente do que tinha vivido [já dera aulas na Holanda]. O que lia na Internet dava medo: muita criminalidade e corrupção. Quando disse aos meus amigos, despediram-se de mim como se fosse para a guerra”, afirmou, entre risos, ao JN.
Mas o que a esperava não era o que imaginara. “É um sítio tão agradável! Cheio de gente boa e com bom tempo. Nunca me senti tão segura numa cidade como em Tbilisi”, disse, feliz, sem esquecer o seu país e que “hoje se vive o Dia de Portugal”.
Com 34 anos, natural do Porto, trabalha na Universidade Estatal de Tbilisi, no Centro de Língua Portuguesa, fruto da parceria com o Instituto Camões. Garante que a população do país se acostumou à nossa língua há muitos anos. “As novelas brasileiras eram transmitidas com a dobragem em si- multâneo. Ouvia-se Português e Georgiano ao mesmo tempo. Pode parecer confuso, mas as crianças cresceram assim. Depois, há o Ronaldo, um fenómeno aqui. São estes os principais motivos que levam os georgianos a aproximarem-se”, disse.
Mari, de 20 anos, Natia, de 21, e Nino, de 33, são estudantes. Após três semestres de aprendizagem, já atacam frases completas e percebem quase tudo. Traduzem poesia de António Ramos Rosa. Vera sente-se realizada: hoje dá aulas, de quatro horas semanais, a 22 alunos. “Só os mais motivados continuam. Há o prémio do melhor aluno – o Instituto dá-lhes uma bolsa de verão em Portugal – e temos atividades. Numa das últimas, comemos feijoada à transmontana e houve uma tentativa de fazermos pastéis de nata”, recorda, divertida.
Não vê muita diferença entre os estudantes portugueses e os georgianos. “É extraordinário ensinar-lhes. Culturalmente, os países são muito parecidos, a grande diferença é o trânsito. Aqui é o Faroeste! De resto, o que nos frustra no nosso país também nos frustra aqui. Há alunos aplicados e outros que nem tanto”.