Mais de metade do país está em seca severa
Douro e Alentejo são as regiões mais afetadas e já faltam pastagens para os animais
Mais de metade do território continental português encontravase, no final de maio, em situação de seca meteorológica severa, o terceiro em gravidade desde 2005. Em regiões mais críticas, as chuvas previstas nos próximos dias serão insuficientes para recuperar pastagens e permitir a sementeira de culturas de sequeiro para alimentar os gados a partir do outono.
De acordo com o último Boletim Climatológico mensal do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), em 31 de maio, não só se mantinha a situação de seca meteorológica em todo o território desde março, como se agravou significativamente no final do mês de maio. Em 30 de abril, 79% do país estava em seca moderada.
A região litoral norte, correspondente a 10% do território, estava em situação de seca fraca, segundo o Índice de Severidade de Seca de Palmer (PDSI, no acrónimo anglosaxónico), que tem em conta a quantidade de precipitação, temperatura do ar e capacidade de água disponível no solo.
Uns 35% do país encontrava-se em seca moderada e mais de metade (54%), sobretudo numa faixa entre o Douro e Alentejo e a maior parte do Algarve, sob seca severa. No sotavento algarvio (1% ) a seca é extrema. Ao todo, 55% do território estava em situação de seca severa a extrema – o terceiro maio mais seco em onze anos. O pior foi o de 2012, com 74% do “retângulo” em seca severa a extrema, seguindo-se o de 2005 (68%), conclui-se da leitura dos boletins mensais.
Evidenciando bem a conhecida variabilidade climática interanual do país, em três anos não houve seca, nem mesmo fraca. Mas as situações de seca, sendo recorrentes, estão a aumentar de intensidade.
Repare-se que a situação de 2005 fora a mais grave, quanto à área afetada por seca severa a extrema (recorde-se: 68%), dos 60 anos anteriores, depois de 1945 (mais de 80%).
A previsão do IPMA não augura melhorias. “Tendo em conta a época do ano, é expectável que a situação de seca meteorológica se mantenha ou se intensifique”.
“Não é nada que a gente não costume passar”, diz Jorge Silva, 44 anos, agricultor e produtor de queijos em Alcains, Castelo Branco, onde a seca se sente desde fevereiro – primeiro fraca, depois moderada, agora severa.
“Estamos com falta de pastagens porque a primavera foi fraca. Choveu pouco, as ervas ainda germinaram um bocadinho, mas, como toda a vegetação, tem um ciclo. Como faltou água, cresceram pouco”, explica. Os produtores de gado já estão a comprar forragens.
Para desajudar, as parições dos gados – ovino, sobretudo – andam tardias (em dezembro em vez de agosto ou setembro) e escassas, com “menor sucesso na cobrição”, pondo “a pique” a produção de leite, sem pastos que fartem nem ovelhas que emprenhem em força.
Na região, as terras já estão preparadas para as culturas de sequeiro, sobretudo as forrageiras como o milho regional, o sorgo e a erva-dosudão. Mas o tempo seco, o vento (“e o vento às vezes seca mais do que o calor”) e a falta de humidade condenam-nas a pousio forçado.