Portugal não teme a baixa do yuan
Desvalorização China baixou valor da moeda, a maior quebra em 20 anos
Alexandre Pinto ainda não pensa em mudar o plano por causa da desvalorização do yuan. Mas a China representa já 10% do negócio da iClio – a startup que criou a aplicação de conteúdos de turismo Just in Time Tourist – e Alexandre admite que é muito diferente “receber 100 mil ou 80 mil euros. Tem muito peso”, explica ao JN/Dinheiro Vivo.
Na sexta-feira, depois de três dias de incerteza entre os investidores, o dólar passou a valer 6,3908 yuan (no dia anterior, tinha chegado aos 6,3982 yuan). A intervenção de Pequim – que desvalorizou a moeda na segunda, terça e, por fim, na quarta-feira – foi vista como uma tentativa de travar a queda das exportações, já que os produtos chineses ficam mais baratos e competitivos fora da China.
Ontem, o economista chefe do Banco Central da China, Ma Jun disse à Reuters prever uma oscilação da moeda por mais algum tempo, mas adiantou que isso não será motivo de preocupação. No entanto, admitiu que o banco poderá voltar a intervir em “circunstâncias excecionais” para corrigir uma “excessiva volatilidade” na taxa de câmbio.
“A China não tem a intenção ou a necessidade de participar numa guerra cambial. (...) Se o banco central precisar de intervir no mercado, poderá ocorrer nas duas direções” de subida ou de descida do valor da moeda, disse. Altamente dependente do comércio externo, a China desvalorizou a moeda numa altura em que a crise mundial ainda não permitiu a recuperação económica de alguns dos seus maiores clientes. Em julho, as exportações chinesas caíram 8,3% face ao mesmo período de 2014.
Muitas das preocupações com a desvalorização da moeda estão relacionadas com as grandes empresas estrangeiras que têm na China um mercado importante. Em Portugal, as empresas com negócios naquele país olham com atenção para as novidades, mas ainda sem grande apreensão.
“Temos um agente que nos compra mercadoria em dólares e que a vende em dólares. Só nas lojas é feita a conversão”, explica Rúben Avelar, da Profession Bottier. Os sapatos da marca portuguesa, os preferidos do antigo presidente francês Nicolas Sarkozy, estão à venda numa loja da Bond Street, em Xangai, e Rúben acredita que a quebra da moeda não será notada nas vendas, pelo menos por enquanto. “Dentro de seis meses, um ano, talvez possa mudar”, acrescentou.
Também com 12% dos seus negócios na China está a Adega Mãe. Bernardo Alves, diretor-geral, diz que “o país é demasiado poderoso e forte” para que a desvalorização da moeda numa semana tenha consequências muito graves. “É um fator apenas, num país tão grande e com tantas oportunidades”.