Jornal de Notícias

França 42 anos a poupar até na alimentaçã­o e em cafés

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José Manuel Campos, 62 anos, poupou durante 42 anos o suficiente para ter uma terceira idade descansada, após uma vida como porteiro de um prédio em Paris. Pensava ele. “Tinha todas as minhas economias no BES, num produto chamado Poupança Plus que dava 2,75% de juros. Pensei que isto era um depósito a prazo, um investimen­to seguro, do BES”, diz, ao JN, revelando que, “se não estivesse reformado, nem teria o que comer”. Teria de vender a sua única casa. A mulher, Maria Azevedo Faria, garante que nem ela nem o marido assinaram qualquer documento que permitisse investimen­tos com risco de perda de capital. “A nossa vida foi sempre trabalho. Nem sequer gastávamos dinheiro a ir ao café. Nem comíamos em restaurant­es. Sempre enviámos o que poupávamos para Portugal. Agora somos tratados como estrangeir­os”, diz a queixosa.

João Almeida, 72 anos, trabalhou durante 17 anos como motorista numa empresa de construção civil na Suíça. Ainda está atónito com o que lhe aconteceu no BES. “Fui completame­nte traído. Garantiram-me que o dinheiro estava aplicado tal e qual como num depósito a prazo, garantido pelo BES, que foi o único banco que não precisou de intervençã­o nem ajuda do Estado”, conta. Foi mais um dos investidor­es do produto Poupança Plus e que, agora, vê o seu extrato do Novo Banco referir-se a uma aplicação com a designação “ações preferenci­ais”. João regressou a Portugal há 11 anos, mas o dinheiro que aplicou no BES consistia em poupanças arrecadada­s na Suíça. Antes de ir para o BES, tinha o dinheiro noutro banco, tendo sido aliciado pelas “melhores condições”. “O capital está lá, no extrato, como vencido, mas agora só querem pagar uma parte.”

“Não quero contas em risco. Repeti isto sempre ao gestor do banco”, conta ao JN Maria Lurdes Monteiro, 55 anos, porteira de um prédio em Paris, mas mulher também de muitos outros ofícios: lavar e passar a ferro, tomar conta de crianças, limpar escadas e lojas em Paris. “Trabalho 12 horas por dia. Levanto-me às quatro da madrugada.” Não obstante a vida toda centrada em França há 35 anos, o dinheiro poupado era todo e sempre encaminhad­o para Portugal e colocado no BES, por influência de um familiar de um vizinho do marido, Manuel Monteiro, na Guarda. Da última vez que o casal fez uma aplicação, em junho de 2013, foi pelo banco referida uma taxa de 3,25%. Dizem que pensavam ser um depósito a prazo. Não pagaram na data de vencimento. “Foi toda a nossa poupança! Não temos mais nada. Está tudo a arder!”, diz Lurdes.

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José Manuel Campos e Maria Azevedo Faria, emigrantes em França

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