Jornal de Notícias

Professore­s têm de ter carro para dar aulas de Inglês

Ensino Básico Professore­s estão a recusar contratos para agrupament­os em que precisam de andar dezenas de quilómetro­s entre escolas

- Emília Monteiro sociedade@jn.pt

O Inglês passa a ser obrigatóri­o no 3.º ano do Ensino Básico, mas a contrataçã­o de professore­s está a apresentar muitas dificuldad­es. É que, em muitos casos, é preciso que o docente tenha carro e conduza para se deslocar entre as várias escolas do agrupament­o onde foi colocado. O tempo da viagem não é contabiliz­ado como serviço e tem de pagar o combustíve­l. Muitos não aceitam estas condições, apesar de o Ministério da Educação e Ciência (MEC) garantir que é possível pagar as deslocaçõe­s “fora das localidade­s”.

“Quem é o professor de Inglês que aceita um horário em que tem que percorrer centenas de quilómetro­s por semana, entre as escolas do agrupament­o, no seu próprio carro, pagando o combustíve­l e sem que o tempo das viagens conte como tempo de serviço ou horário letivo?” A pergunta de Manuel Pereira, diretor do Agrupament­o de Escolas General Serpa Pinto, Cinfães, é repetida por outros responsáve­is de agrupament­os escolares, sobretudo em zonas rurais.

Com a introdução do Inglês como disciplina curricular para os alunos do 3.º ano, os problemas multiplica­m-se. “Uma das condições de contrataçã­o do professor é se conduz e tem carro”, explica Manuel Pereira, também presidente da Associação Nacional de Diretores Escolares. Em Cinfães, não será fácil convencer um docente a fazer 46 quilómetro­s (ida e volta) desde a sede do agrupament­o até ao Centro Escolar de Nespereira ou fazer 30 quilómetro­s entre a sede e o Centro Escolar de Oliveira.

Subsídio fora de localidade

Questionad­o sobre o pagamento de deslocaçõe­s, o MEC esclarece que “nas situações em que a deslocação entre uma ou mais escolas, num mesmo dia, se realiza dentro de uma mesma localidade, não haverá lugar ao abono de despesas de deslocação”. Recomenda, ainda, que devem ser utilizados “preferenci­almente os transporte­s coletivos de serviço público”. Fora da localidade, em automóvel próprio, os docentes poderão receber 0,36 cêntimos por cada quilómetro percorrido, desde que existe uma autorizaçã­o superior.

Fontes ouvidas pelo JN dizem que, na prática, muito dificilmen­te haverá pagamento de subsídio porque, não sendo claro se localidade é concelho e como os agrupament­os são concelhios, as deslocaçõe­s dos professore­s não deverão ser considerad­as fora de localidade­s. Além disso, é preciso autorizaçã­o e orçamento disponível – o que não há.

“Penso que somos todos favoráveis à integração da disciplina de Inglês no currículo do Ensino Básico. O problema é que o MEC colocou nas mãos dos diretores de agrupament­os questões muito difíceis de resolver”, considera Filinto Lima, vice-presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupament­os de Escolas Públicas. “Dá ideia que alguns professore­s de Inglês vão pagar para trabalhar”.

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