Operação Kosovo: Portugal foi uma (curta) passagem
Pranvera deu os primeiros passos ao lado do mar frio da Ericeira. Era verão, o de 1999, e enquanto uma das mais jovens ocupantes da colónia de férias de São Julião aprendia a andar, à sua volta dezenas de albaneses fixavam-se no seu nome como uma promessa. Na língua de Camões, Pranvera significa primavera. E foi na expectativa de um renascimento que cerca de dois mil refugiados kosovares passaram por Portugal.
Chegaram debaixo de holofotes. As primeiras famílias que aterraram no aeroporto militar de Figo Maduro tiveram à sua espera ministros, um número infindável de papéis para preencher e muitos olhares estranhos. Da partida, a conta-gotas, é mais difícil encontrar registos. Mas sabe-se que a maioria dos dois mil refugiados acolhidos na “Operação Kosovo” voltou a casa em 2000 e 2001.
Na altura, a operação de acolhimento foi desenhada pela Proteção Civil. A delimitação geográfica do fenómeno facilitou a logística e seleção das famílias. Uma equipa de avaliação deslocou-se previamente a campos de refugiados na Macedónia, mas a seleção das pessoas a acolher coube às organizações locais. Prioridade a famílias completas, seguindo-se mães com crianças ou pessoas doentes.
Como foram privilegiados centros de férias, em locais como Apúlia ou Penafiel, os refugiados acabaram na sua maioria por viver isolados. Em dias sempre iguais. De ouvido colado ao rádio, para sintonizar o canal “Europe Free”. Acompanhando, à distância, a evolução do conflito entre a guerrilha albanesa e as forças sérvias. E aprendendo a palavra que os portugueses inventaram para quando se está longe de casa. Saudade.