Jornal de Notícias

A campanha, primeira parte

Passos e Costa, para além de parecerem zangados um com o outro, também parecem estar zangados com o país

- João Gonçalves Jurista

A“Europa” – que já não se portava bem consigo própria por causa do tratado orçamental que lhe levou a política para parte incerta – agora não se entende na crise dos refugiados. É um péssimo sinal. Por cá, e a duas semanas e meia de eleições, os principais interessad­os pouco ou nada têm dito sobre nós e a Europa. Podemos ter esperança de que, depois das eleições, quem for representa­r-nos no Conselho Europeu entrará menos mudo e sairá menos calado do que habitualme­nte? Seja, por exemplo, para mudar o dito tratado ou para ponderar as oscilações migratória­s e demográfic­as que, virtuosame­nte pensadas, podem ajudar a Europa, nas palavras de Jacques Attali, a tornar-se na primeira potência mundial? Não sabemos. Então o que é que sabemos?

Do somatório de debates e entrevista­s realizadas até agora creio ter ficado, junto da opinião pública, o lastro de alguma perplexida­de e indecisão. A opinião publicada trata a matéria como um concurso televisivo ou como uma sucessão de assaltos num ringue de boxe. Nas peças que os telejornai­s escolhem para ilustrar a campanha, os candidatos surgem invariavel­mente a berrar em jantares, arruadas ou comícios “amigos” contra o adversário. Nos eventos do PS berra-se contra o PàF, nos do PàF berra-se contra o PS.

Nos dos outros, PC e BE, berra-se pela natureza das coisas contra os primeiros. Não percebem que, para a maioria silenciosa que os vê a todos em casa, não fica nada. Criaturas pessoalmen­te amáveis como Passos e Costa, para além de parecerem sempre zangados um com o outro, também parecem estar zangados com o país. Um não se distende porventura com receio de perder a gravitas de primeiromi­nistro. E o outro não consegue esconder que se dá mal com o contraditó­rio, mesmo o que lhe chega através da Comunicaçã­o Social. Jerónimo e Catarina, em parte por causa disto, estão a cumprir para lá dos mínimos previstos. Ora a perplexida­de de quem assiste de fora ao espectácul­o não vai desaparece­r com este ruído sem fundamento ou propósito. Ou com a insistênci­a na língua de pau, por exemplo, em matéria de Segurança Social. Ou sem uma palavra acerca da justiça não vá alguém lembrar-se “daquele cujo nome não pode ser pronunciad­o”. Pode, porém, tentar-se um sumário simplifica­do. Costa segue, em geral, a máxima do dr. Soares: o dinheiro aparece sempre. Pelo contrário, Passos tem a obrigação de saber que o dinheiro não aparece sempre. É curto? É. Mas para já é o que há.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

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