A campanha, primeira parte
Passos e Costa, para além de parecerem zangados um com o outro, também parecem estar zangados com o país
A“Europa” – que já não se portava bem consigo própria por causa do tratado orçamental que lhe levou a política para parte incerta – agora não se entende na crise dos refugiados. É um péssimo sinal. Por cá, e a duas semanas e meia de eleições, os principais interessados pouco ou nada têm dito sobre nós e a Europa. Podemos ter esperança de que, depois das eleições, quem for representar-nos no Conselho Europeu entrará menos mudo e sairá menos calado do que habitualmente? Seja, por exemplo, para mudar o dito tratado ou para ponderar as oscilações migratórias e demográficas que, virtuosamente pensadas, podem ajudar a Europa, nas palavras de Jacques Attali, a tornar-se na primeira potência mundial? Não sabemos. Então o que é que sabemos?
Do somatório de debates e entrevistas realizadas até agora creio ter ficado, junto da opinião pública, o lastro de alguma perplexidade e indecisão. A opinião publicada trata a matéria como um concurso televisivo ou como uma sucessão de assaltos num ringue de boxe. Nas peças que os telejornais escolhem para ilustrar a campanha, os candidatos surgem invariavelmente a berrar em jantares, arruadas ou comícios “amigos” contra o adversário. Nos eventos do PS berra-se contra o PàF, nos do PàF berra-se contra o PS.
Nos dos outros, PC e BE, berra-se pela natureza das coisas contra os primeiros. Não percebem que, para a maioria silenciosa que os vê a todos em casa, não fica nada. Criaturas pessoalmente amáveis como Passos e Costa, para além de parecerem sempre zangados um com o outro, também parecem estar zangados com o país. Um não se distende porventura com receio de perder a gravitas de primeiroministro. E o outro não consegue esconder que se dá mal com o contraditório, mesmo o que lhe chega através da Comunicação Social. Jerónimo e Catarina, em parte por causa disto, estão a cumprir para lá dos mínimos previstos. Ora a perplexidade de quem assiste de fora ao espectáculo não vai desaparecer com este ruído sem fundamento ou propósito. Ou com a insistência na língua de pau, por exemplo, em matéria de Segurança Social. Ou sem uma palavra acerca da justiça não vá alguém lembrar-se “daquele cujo nome não pode ser pronunciado”. Pode, porém, tentar-se um sumário simplificado. Costa segue, em geral, a máxima do dr. Soares: o dinheiro aparece sempre. Pelo contrário, Passos tem a obrigação de saber que o dinheiro não aparece sempre. É curto? É. Mas para já é o que há.
O autor escreve segundo a antiga ortografia