Jornal de Notícias

O banco mau não morreu

- Pedro Ivo Carvalho Editor-executivo-adjunto

Estamos todos lembrados: há mais ou menos um ano, o BES tombou com estrondo. Vítima de doença prolongada, teve o desfecho que as dívidas acumuladas de mais de três mil milhões de euros tornaram inevitável. Do banco mau, nasceu o banco bom. Chamaram-lhe Novo Banco e prometeram-nos que seria uma saudável borboleta esvoaçante e não a lagarta que se alimentava de produtos tóxicos. Seis meses bastaram, contudo, para perceber que o banco bom não estava assim tão bom. Nem tão limpo: 251 milhões de euros de prejuízos. E resquícios do tempo do outro senhor.

Passos Coelho decidiu não nacionaliz­ar esta gigantesca dor de cabeça, temendo que o filme de terror do BPN se repetisse. O primeiro-ministro tomou a única decisão que, politicame­nte, era compreensí­vel à altura. Por muito que, hoje, demagogica­mente, o PS venha dizer que teria feito tudo de outra forma.

A certeza de que tudo ia correr pelo melhor foi, porém, dando lugar a uma cortina de incertezas e desconfian­ças. Se o BES fora um desastre consumado, a sua versão melhorada era apenas um desastre à espera de acontecer. Como agora se comprova, após o fracasso das negociaçõe­s para a venda do Novo Banco, ao fim de nove meses de avanços e recuos. Na melhor das hipóteses, só em 2016 será conhecido o desfecho desta novela. Na próxima legislatur­a, portanto. Com o próximo Governo.

Perdeu Passos, perdeu o governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, que fez de árbitro e jogador. Mas perderão os contribuin­tes?

Ora, essa é a pergunta do milhão de dólares. Ou, para sermos mais exatos, a pergunta dos 3,9 mil milhões de euros, quantia que o Estado injetou no Fundo de Resolução criado para capitaliza­r o Novo Banco. A fazer fé no BdP, este fundo não vai receber nem mais um cêntimo de capital público, mas a verdade é que são tantos os cenários que se desenham que o melhor mesmo é acreditarm­os no mais sombrio. A fatura há de chegar, só não sabemos quando nem com que tamanho. Uma coisa, porém, podemos arriscar: dificilmen­te o Novo Banco valerá mais dinheiro daqui a uns meses do que agora.

Por isso, os lesados do BES podem não ser apenas os clientes do papel comercial que tomaram a campanha eleitoral de assalto. Os lesados do BES podem ser os clientes do Novo Banco. Podem ser os clientes dos outros bancos. Podem ser os contribuin­tes. A ministra das Finanças garante que não. Que o impacto no défice é mera estatístic­a e que estamos a salvo. Que o banco mau está morto e enterrado. Vamos acreditar. Vamos?

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