Défice derrapa e agita campanha
Legislativas Recapitalização do Novo Banco descontrola meta do défice e une a Esquerda contra a austeridade imposta nos últimos 4 anos
Novo Banco descontrola contas. Passos desvaloriza. Costa desafia coligação a mostrar como vai resolver desvio
O Governo previu um défice orçamental de 4,5% do PIB para 2014, mas ficou ontem a saber-se, através do Instituto Nacional de Estatística (INE), que afinal o valor subiu para 7,2%. O aumento deve-se à recapitalização de 4,9 mil milhões de euros do Novo Banco, que, de acordo com as estimativas do Governo, devia ter sido vendido no prazo de um ano e não foi. Não tendo sido vendido, e de acordo com as regras europeias, a injeção de capital público reflete-se nas contas públicas.
A notícia não caiu como uma bomba na coligação PSD/CDS-PP, que ontem insistiu em desvalorizar o desvio e em repetir que o défice ficará abaixo dos 3% em 2015, embora sem dizer como. Caiu como uma bomba à Esquerda, que encontrou no défice o derradeiro argumento para unir-se contra as razões usadas para justificar a austeridade dos últimos quatro anos.
“Hoje é o dia em que a campanha eleitoral da Direita morreu”, diagnosticou Catarina Martins, portavoz do Bloco de Esquerda. É também o dia, acrescentou, em que duas mentiras foram desmontadas: a de que “os sacrifícios impostos nestes quatro anos dariam resultados nas contas públicas” e a de que “a resolução do BES não vai custar um tostão aos contribuintes”.
Os números divulgados pelo INE – e que revelam também um desvio no défice do primeiro trimestre de 2015 (de 2,7% para 4,7%) – são “provas redondas do falhanço do Governo”, corroborou Mariana Mortágua, cabeça de lista do BE por Lisboa. “Défice descontrolado, dívida descontrolada, um Novo Banco que leva o défice de 2014 ao valor do défice de 2011, quando tomaram posse. Um quadro mais negativo era difícil”.
No PS, António Costa foi rápido a reagir. “Ficou absolutamente claro que as contas do programa de estabilidade assentavam numa ficção”, acusou, para depois voltar, agora com novo fôlego, ao tema de partida da campanha: as pensões. “Perante um programa insustentável, que tentou disfarçar um problema que era indisfarçável, Passos Coelho tem de explicar quanto vai afinal ter de cortar nas pensões e aumentar os impostos para cobrir este gigantesco buraco”.
Passos Coelho não só não respondeu, como desvalorizou a subi-
Défice de 2014 subiu de 4,5% para 7,2%. No primeiro trimestre de 2015, subiu de 2,7% para 4,7%
da do défice em 2% e ainda procurou reverter a não venda no Novo Banco a favor do seu Executivo.
“Quanto mais tarde regressar à esfera pública o dinheiro que emprestámos (para a recapitalização do banco), mais dinheiro em juros o país acumulará”, afirmou, acrescentando já ter recebido 120 milhões de euros em juros. Quanto ao impacto disso no défice de 2014, “trata-se apenas de reporte contabilístico, sem qualquer influência no nosso dia a dia”, insistiu.
Leitura muito diferente faz Jerónimo de Sousa. “Três anos de- pois de roubos de salários, reformas e pensões, de aumento brutal de impostos, de cortes na saúde, na educação, na Segurança Social e na cultura, temos um défice idêntico ao de 2011. E, pasme-se, a tal dívida que Passos Coelho diz que anda a abater, tem vindo afinal a crescer oito milhões de euros ao dia”.
A leitura otimista de Passos também difere da que fez a sua ministra das Finanças, em outubro do ano passado. “Objetivamente, pode haver perdas”, reconheceu.