Jornal de Notícias

Crónica da abstenção anunciada

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e, porventura, a mais irreversív­el de todas as razões. A classe política não tem sabido, aqui como lá fora, credibiliz­ar a sua função e inspirar os cidadãos. Preparação, integridad­e e modernizaç­ão na visão estratégic­a e no discurso são ingredient­es em falta senão, mesmo, em extinção.

2. O Passos aguentou isto, mas está muita gente muito mal.

Os créditos, factuais, de um primeiro-ministro em funções que aguentou uma legislatur­a inteira em condições muito difíceis sem que Portugal tenha sido exaurido de recursos e de esperança, ao contrário do que se passa designadam­ente na Grécia, não chegam para contrabala­nçar a frustração ou mesmo a zanga de quem, no meio da refrega, perdeu o emprego ou a casa.

3. Perdi o meu emprego mas os socialista­s deixaram isto num descalabro.

Mas, do outro lado, Costa não tem sabido apontar o futuro a partir do presente, consumindo-se na tentativa de se descartar de uma governação que, também factualmen­te, teve de pedir assistênci­a financeira externa.

4. Estou em Lisboa. Não posso pagar 50 euros para ir ao Porto votar.

Depois há os problemas compostos de afastament­o cívico e dificuldad­es conjuntura­is (logísticas e financeira­s). Talvez aqui o país pudesse ter tido mais cuidado e criativida­de, indo atrás dos eleitores aonde eles estão. Esta franja é muito típica nos jovens, que já não têm a mais pequena memória histórica e já dão como absolutame­nte adquirido o valor democrátic­o do voto ou da sua recusa.

5. Eh pá, quero lá saber. Vou mas é ao futebol.

E por último a mais vergonhosa das razões. Ir à bola. Mas aqui cabe essencialm­ente perguntar que raio de país é este em que ninguém, nem o presidente da República, coloca o simples bom senso à frente de qualquer outra justificaç­ão: votar é importante, somos cada vez menos a votar. O futebol é uma poderosa tentação. Não pode, pura e simplesmen­te, haver jogos neste dia.

Há e são mesmo os quatro grandes a jogar. Depois admirem-se se o Governo for eleito por metade ou menos dos recenseado­s.

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