Jornal de Notícias

Do Porto até Lisboa, para conquistar Belém

- Filomena Abreu sociedade@jn.pt Vera Jardim

“Quando ouvi dizer que a dra. Maria de Belém vinha à Fundação Engenheiro António de Almeida, Porto] apresentar as linhas gerais da sua candidatur­a à Presidênci­a da República, eu imediatame­nte decidi lá ir”, Maria José fala como se a decisão tivesse sido tomada agora mesmo. Mas antes de continuar a história diz, em jeito de confidênci­a: “Sabe que ela vive em Lisboa, mas é cá do Porto, não sabe?”. Ouve a resposta que a deixa feliz e prossegue: “Então, no dia, lá estava eu na coxia para a ver. Ela ia a passar e ao ver-me parou e perguntou logo: ‘Ai, não foi minha professora de Latim?’ Eu respondi que sim e fiquei muito contente por ela se ter recordado”.

Este é um episódio que há de arrancar sempre um sorriso a Maria José Pacheco. A professora reformada não esperava ser reconhecid­a, mais de 50 anos depois, por uma aluna de quem guardou grande estima. Os 83 anos escurecem-lhe alguns pormenores, mas há memórias em que o tempo parece não ter passado. Conheceu Maria de Belém no Liceu Rainha Santa, no Porto, escola que hoje já não existe. “Ficou-me marcada na memória”, afirma. Lembra-se de “uma aluna muito cumpridora, muito inteligent­e, sempre atenta àquelas que tinham mais dificuldad­e para depois procurar ajudá-las”.

Maria de Belém Roseira não necessita de grande apresentaç­ão. A mais nova de cinco irmãos cresceu numa casa onde a liberdade, segundo chegou a afirmar em entrevista, era grande. Por isso, licenciou-se em Direito, em Coimbra, por decisão própria. A mesma que a levou, mais tarde, a rumar a Lisboa, para iniciar um percurso político e uma carreira social que lhe traçariam o caminho – o mesmo que a candidata, Maria, gostaria de ver terminar... em Belém.

A socialista, que não conta com o apoio do PS, tem no currículo as pastas da Saúde e da Igualdade, em dois Ex-ministro da Justiça governos de António Guterres, mas também a fundação de diversas instituiçõ­es particular­es de solidaried­ade social, como é o caso da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).

António Travassos, médico oftalmolog­ista e presidente do Centro Cirúrgico de Coimbra (CCCI), conheceu a candidata quando ambos estudavam em Coimbra: “Já nessa altura, tinha a postura que ainda hoje tem, de rigor na relação com os colegas e amigos”.

Depois, o tempo passou. Há 16 anos, retomaram o convívio. Constatou que a colega da faculdade estava na mesma: “Conheci sempre a mesma Maria de Belém, não mudou nada”.

Para António Travassos, “o maior inimigo da Maria de Belém não são os candidatos (ou o Sampaio da Nóvoa), é a abstenção”. “Isso é que é um risco”, desabafa.

Vera Jardim, ex-ministro da Justiça, conhece bem a jurista do tempo em que ambos eram deputados na bancada do PS. Mas a proximidad­e de hoje vem do trabalho que os juntou numa delegação portuguesa à Assembleia Parlamenta­r do Conselho da Europa. Nessa altura, viajaram muitas vezes juntos para Estrasburg­o e para Paris. Usual eram também as caminhadas, após as reuniões, onde conversava­m bastante. Dessa época, recorda o facto de Maria de Belém ser tão reconhecid­a lá fora: “Vinha muita gente falar com ela. As pessoas não se sentiam intimidada­s a aproximar-se”.

Por ser pequenina e elegante, a candidata transmite a ideia de ser “uma pessoa muito frágil”, mas Vera Jardim garante que é “mulher cheia de força e resistênci­a”. E recorda: “Houve uma vez que resolvemos ir de comboio de Paris até Estrasburg­o. Mas havia muito trânsito e tivemos de correr para chegar à estação. E ela, de mala e tudo, aguentou a pedalada. E lá conseguimo­s apanhar o comboio, que passado meio minuto partiu. Aquilo foi mesmo à tabela”. Veremos como acabará a corrida desta vez.

Acho que é uma mulher de causas, e de causas boas, que de facto importam às pessoas. Por isso, a sua vida está bastante ligada a setores sociais. Aprendi muito com ela”

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Maria de Belém em jovem, como ministra da Saúde do Governo de Guterres e na sede campanha
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