Marinha italiana evita tragédia ao largo da Líbia
Mediterrâneo Europa prepara-se para multiplicar acordo que firmou com a Turquia
As contas da Marinha italiana fixaram-se em 562 pessoas salvas e cinco mortos, um balanço que poderia ter sido trágico se a embarcação militar não tivesse detetado o bote com migrantes a tempo. Aconteceu ontem de manhã, no canal da Sicília, ao largo da Líbia, numa altura em que o Mundo estava reunido em Istambul, na Turquia, para discutir ajuda humanitária.
As fotos da operação retratam uma realidade ainda corrente: segundo a Organização Internacional para as Migrações, o Mediterrâneo engoliu este ano, até anteontem, 1370 vidas, menos 25 do que no mesmo período do ano passado. Uma redução que os dirigentes da organização atribuem à diminuição das travessias da Turquia para a Grécia, facto que, admitem, se deve ao acordo firmado em março entre Ancara e União Europeia para travar a migração para a Europa.
O acordo foi um dos temas em debate na Cimeira Humanitária Mundial, mormente nos encontros paralelos entre líderes. Consistindo no reenvio de migrantes contra receção de refugiados, o texto prevê 72 condições: entre elas, por um lado, a Europa isentar os turcos de vistos, e, por outro, a Turquia alterar a definição legal de terrorismo para impedir perseguições por “propaganda terrorista”. Ancara acusa a Europa de se imiscuir em assuntos internos e Bruxelas não desarma. Ora o presidente Recep Tayyip Erdogan – que tem agora um primeiro-ministro disposto a transformar a Turquia num regime presidencial – avisou que bloquearia o acordo se não houver, como prometido, vistos a 1 de junho.
A chanceler alemã Angela Merkel desvaloriza a ameaça. “Não estou preocupada. É possível que determinadas questões demorem mais tempo, mas em princípio vamos cumprir o acordo”.
A aparente diminuição de travessias desde a Turquia levou já a Europa a tentar desenhar uma cooperação semelhante com a Líbia, país de saída de barcos como o que ontem naufragou. O alargamento da colaboração com Tripoli, agora com um governo de união nacional, passará por treinar a guarda costeira líbia, para que se alargue a águas líbias a luta contra traficantes no âmbito da operação “Sophia”. Desde outubro, levou à detenção de 80 traficantes (que forçam muitos a embarcar para pedir resgates às famílias, diz Alain Le Roi, do Serviço Europeu de Ação Externa) e ao salvamento de 14 mil pessoas.