Que balanço faz dos primeiros seis meses de Governo?
Clara Almeida Santos
Vice-reitora da Universidade de Coimbra
Seis meses não é muito tempo para se tirar conclusões sobre o sucesso ou fracasso de um Governo. Sobretudo porque este primeiro semestre serviu sobretudo para mudar coisas, ainda que essas alterações não se constituam em reformas. Se este Executivo fosse de continuidade, seria possível uma avaliação dos resultados das políticas continuadas. Mas o cenário deste período é muito ditado por reversões e reposições. A procissão vai no adro e, como bem sabe quem já passou por essa experiência, a organização inicial demora, e dali não se podem tirar muitas conclusões sobre o que vai acontecer a seguir. Apenas esperar que corra bem. Num contexto de grande pressão em várias matérias, sobretudo na educação, trabalho e finanças, destaca-se a atuação inteligente do primeiro-ministro, cimento das várias partes em potencial desagregação. Os próximos meses dirão se é suficiente.
Fernando Gomes
Economista
Seis meses é um período muito curto para se avaliar o que pode valer uma legislatura. Contudo, face às frágeis expectativas criadas quando da formação do primeiro Governo apoiado por uma maioria de Esquerda, há que reconhecer que o resultado tem surpreendido. Desde logo, porque, na hora da verdade, o apoio parlamentar não tem falhado. Como diz António Costa, “a geringonça funciona”. Depois, porque as principais promessas eleitorais têm vindo a ser cumpridas, mesmo sob os avisos intimidatórios de Bruxelas. Finalmente, porque os primeiros resultados da execução orçamental agora conhecidos são razoáveis. Há, porém, um grande senão – os persistentes elevados níveis de desemprego não dão sinais credíveis de mudança. Mas, insisto, nunca seriam seis meses que nos permitiriam tirar conclusões sérias.’’
Sebastião Feyo de Azevedo
Reitor da Universidade do Porto
Revisito a minha resposta à questão de 1 de maio (sobre o funcionamento da “geringonça”): “é bem sabido que em política “não adianta, nem se pode” ter razão antes do tempo certo; neste momento é ainda cedo para uma avaliação séria sobre a ação governativa ou sobre a estabilidade da base de apoio parlamentar; falemos daqui a algum tempo, com indicadores de governação de 2016 e aquando da discussão do Orçamento para 2017”. Complemento hoje: o Governo tem-se aguentado, esboça uma linha de rumo e reabriu um pouquinho a janela da esperança, é certo; mas continuamos a viver em suspenso sobre a viabilidade desse rumo, particularmente pensando nas políticas que estão aí no horizonte para asseguramos o cumprimento do equilíbrio orçamental no setor público. Não esqueçamos que nas sociedades abertas “confiança” é a palavra-chave para o desenvolvimento; o sucesso do Governo dependerá pois da confiança que consiga transmitir através da coerência da sua ação e da sua postura. Falamos em outubro…’’