Riqueza nacional festejada à mesa
Foi em junho do ano passado que se formalizou, por sugestão da Federação das Confrarias Gastronómicas de Portugal, uma das mais relevantes resoluções da Assembleia da República no que ao património nacional diz respeito: a instituição do Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa, que se comemora precisamente hoje.
É que, a francesinha, o leitão assado, o arroz de cabidela ou o pastel de Belém têm hoje quase tanto peso turístico quanto a Torre dos Clérigos, a Torre de Belém ou o Mosteiro da Batalha. “A gastrono- mia traz um valor incalculável ao destino Portugal e, por conseguinte, ao nosso turismo e à nossa economia”, reconheceu Paulo Mendonça, vice-presidente da Associação de Hotelaria Restauração e Similares de Portugal, aquando da apresentação da formalização do Dia da Gastronomia, que hoje terá o epicentro em Aveiro, com a realização de vários showcookings e workshops para famílias.
Mas o que tem a gastronomia portuguesa que as outras não têm? É saborosa, rica, são usados produtos e técnicas únicos que deliciam até os mais céticos. Num país com apenas 92 090 quilómetros quadrados, cabe uma imensidão de sabores e diversidade difícil de quantificar e qualificar. Carla Lopes, especialista em alimentação do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, explica que parte do segredo do paladar da nossa comida está no facto de ser “menos processada”. “Somos um dos países com uma das gastronomias mais apelativas globalmente”, refere.
“Portugal enquadra-se num padrão mais mediterrânico, embora o Norte de Portugal e parte de Espanha tenha a ver mais com o Atlântico, mas o importante aqui é a cultura, o facto de ser oriundo de cultivo local, dá-lhe um caráter positivo, comparado com outro tipo de alimentação, nomeadamente europeu”. Um dos primeiros fatores que o distingue, beneficiando de ser um país costeiro, “é o facto de utilizarmos na cozinha muitas espécies de peixes diferentes”. Além disso, o uso do azeite na confeção e até no acompanhamento de determinados pratos, “uma ótima gordura”, é também, para Carla Lopes, “um bom hábito da nossa gastronomia”.
A parte mais negativa da cozinha nacional, aponta a especialista da UP, é o sal. “Mas há uma nova orientação em ir buscar as ervas aromáticas para minimizar o seu uso, e isso é bom e espero que tenha repercussões futuras”.