Canelas Uma vila de gente pacata a lutar contra a má fama
Gaia Violência nos jogos da equipa de futebol e atribulada substituição do padre põem povoação no radar
3Por ter dois compassos na Páscoa, um da Igreja Católica e outro da associação Uma Comunidade Reage (seguidores do padre Roberto), e ter “a equipa de futebol mais violenta do Mundo”, segundo a recente designação do jornal espanhol “As”, a freguesia de Canelas, em Gaia, tem sido notícia, em momentos diferentes.
O caso futebolístico é mais fresco – um jogador partiu o nariz ao árbitro – e teve divulgação internacional. Também famosa por outros motivos, como as francesinhas e o Trail na Serra, a vila, de 15 mil habitantes e com a menor taxa de desemprego do concelho, mercê da indústria, paga o preço de lhe ter sido colado o rótulo da “violência” que associam à equipa de futebol e para o qual a hostilidade ao padre Albino, substituto de Roberto, também terá contribuído, há uns anos.
O Canelas 2010 sucedeu ao Canelas Gaia FC, que caiu na insolvência, e conta no seu plantel com vários elementos da claque portista SuperDragões. O JN foi para a rua tomar o pulso à população e o sentimento geral é de repúdio à joelhada dada ao árbitro José Rodrigues. “Devem pensar que as pessoas de Canelas são violentas, mas não é nada disso. É uma terra como as outras. Canelas ganhou fama pelos piores motivos, mas é uma vila boa para se viver”, jura Carina Passos, uma estudante de 20 anos, em tranquilo passeio com os colegas Manuel
e Joana e a cadela Ruby.
Culpa-se o fanatismo Canelas passou a vila em dezembro de 1987, mas a sede da Junta é acanhada e tem instalações provisórias. Em princípio, a construção do novo edifício começará no final deste ano.
Manuela Almeida, de 45 anos, adepta confessa do F. C. Porto, culpa o “fanatismo”, tanto na situação do futebol como no tema religioso. “Para o futebol, é frustrante. Perturba todos aqueles que lá andam por amor à camisola”, explica. Na resistência pela continuidade do pároco Roberto, aponta um aspeto positivo: “Achei bonito que as pessoas de idade se tenham juntado pelo padre da freguesia. O povo uniu-se, coisa que não se vê com tantos cortes do Estado e sem contestação”. Manuela acrescenta que a freguesia tem iniciativas interessantes, como a Festa da Francesinha e a Feira Medieval, mas lamenta que isso “não passe para fora”.
Na Confeitaria Pavilon, ponto de encontro dos canelenses, todos comentam, mas quase ninguém quer dar a cara. Joaquim Rodrigues, de 61 anos e antigo ciclista, não esconde o desalento. “Passei aqui a minha mocidade e o que está a acontecer é negativo para a imagem da terra”, diz. No domínio das francesinhas, a rivalizar com o Locanda, conta-se o restaurante S. João, em frente à igreja. José António, o proprietário e exjogador do Canelas, reconhece que as cenas no futebol “não são abonatórias”, mas confia que a freguesia “dará a volta por cima”.