Jornal de Notícias

A liberdade a que temos direito

- Mariana Mortágua Deputada do BE

Abril foi muitas coisas. Coisas que cada um de nós carrega. Uns, como os meus pais, porque tanto o desejaram e viveram. Outros, como eu, porque transporta­m e reclamam orgulhosam­ente a memória coletiva que insistem, que insistimos, em não querer reduzir a mera celebração de dia feriado.

Abril foi rutura e foi fim. Libertou os prisioneir­os, acabou com a tortura e a censura, remeteu o colonialis­mo ao vergonhoso lugar da História onde sempre pertenceu. Mas foi também começo, e disputa, num momento em que a liberdade significav­a poder esgotar todas as possibilid­ades da democracia, sem chantagens.

E quando hoje nos querem fazer acreditar que toda a democracia tem de caber nos confinados parâmetros da União Europeia, do euro e das suas regras, é chantagem que estão a fazer. Quando confundem o inconfundí­vel, e nos dizem que tudo o que questiona o sistema é populismo de extrema-direita, é chantagem que estão a fazer. Quando querem tornar “normal” que as nossas escolhas soberanas sejam avaliadas por agências de rating privadas, é chantagem que estão a fazer. E a democracia não pode ser chantagem, sob pena de não ser democracia.

O país mudou nos últimos dois anos. Respira-se melhor porque os acordos entre o Bloco, o PCP e o PS alargaram o campo das possibilid­ades políticas. Estamos a cumprir o que prometemos, e todos os dias nos batemos por direitos e rendimento­s. Mas isso não basta.

O Programa de Estabilida­de apresentad­o pelo Governo a Bruxelas é um futuro certo de desinvesti­mento no país e no Estado social em nome do cumpriment­o de regras orçamentai­s absurdas.

De todas as coisas que Abril foi, talvez a mais importante seja a liberdade para escolher um futuro. Exercê-la exige a possibilid­ade de questionar e rejeitar futuros tornados inevitávei­s por regras emanadas de instituiçõ­es que pouco carinho têm pela democracia. Depois de Abril, essa é a liberdade a que temos direito.

Viva o 25 de Abril!

De todas as coisas que Abril foi, talvez a mais importante seja a liberdade para escolher um futuro

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