A liberdade a que temos direito
Abril foi muitas coisas. Coisas que cada um de nós carrega. Uns, como os meus pais, porque tanto o desejaram e viveram. Outros, como eu, porque transportam e reclamam orgulhosamente a memória coletiva que insistem, que insistimos, em não querer reduzir a mera celebração de dia feriado.
Abril foi rutura e foi fim. Libertou os prisioneiros, acabou com a tortura e a censura, remeteu o colonialismo ao vergonhoso lugar da História onde sempre pertenceu. Mas foi também começo, e disputa, num momento em que a liberdade significava poder esgotar todas as possibilidades da democracia, sem chantagens.
E quando hoje nos querem fazer acreditar que toda a democracia tem de caber nos confinados parâmetros da União Europeia, do euro e das suas regras, é chantagem que estão a fazer. Quando confundem o inconfundível, e nos dizem que tudo o que questiona o sistema é populismo de extrema-direita, é chantagem que estão a fazer. Quando querem tornar “normal” que as nossas escolhas soberanas sejam avaliadas por agências de rating privadas, é chantagem que estão a fazer. E a democracia não pode ser chantagem, sob pena de não ser democracia.
O país mudou nos últimos dois anos. Respira-se melhor porque os acordos entre o Bloco, o PCP e o PS alargaram o campo das possibilidades políticas. Estamos a cumprir o que prometemos, e todos os dias nos batemos por direitos e rendimentos. Mas isso não basta.
O Programa de Estabilidade apresentado pelo Governo a Bruxelas é um futuro certo de desinvestimento no país e no Estado social em nome do cumprimento de regras orçamentais absurdas.
De todas as coisas que Abril foi, talvez a mais importante seja a liberdade para escolher um futuro. Exercê-la exige a possibilidade de questionar e rejeitar futuros tornados inevitáveis por regras emanadas de instituições que pouco carinho têm pela democracia. Depois de Abril, essa é a liberdade a que temos direito.
Viva o 25 de Abril!
De todas as coisas que Abril foi, talvez a mais importante seja a liberdade para escolher um futuro