E agora Macron?
Portugal mudou. Mudou tanto que se o mostramos a um jovem ou a uma criança eles dificilmente compreenderão a realidade cinzenta, pobre, oprimida de outros tempos. Hoje celebramos o 25 de Abril, 43 anos volvidos daquela “madrugada que eu esperava/ O dia inicial inteiro e limpo”, nas palavras cristalinas de Sophia. Hoje um dos grandes desafios é combater o esquecimento, agitar as consciências, lembrar: a liberdade é uma conquista nunca deveras garantida, sempre ameaçada.
Celebramos o aniversário da Revolução de Abril, dois dias depois de milhões de franceses, em plena consciência, terem depositado a sua confiança em Marine Le Pen. Entre esses milhões de votantes, estão muitos portugueses e seus filhos: emigraram porque o país cinzento e opressor, do analfabetismo, da pobreza, dos amos intocáveis, nada tinha para lhes dar.
Quando celebramos o 25 de Abril, a França, o país que durante séculos nos serviu de guia como baluarte da liberdade, dos direitos humanos e das causas sociais, está dividida entre o fascismo de Le Pen e algo, poucos sabem o que é, corporizado pelo jovem Emmanuel Macron. A Europa torce pela vitória do economista liberal. Quer mudar, sem implodir, essa mesma velha Europa. E de facto, depois do Brexit, parece estar nas mãos de Macron, caso vença a segunda volta, salvar a Europa económica e social, federada e solidária. O homem irrompeu na cena política francesa, sem amarras aos velhos aparelhos partidários tradicionais, onde o povo cada vez menos se reconhece. Sem dotes oratórios, como se pôde constatar no discurso da vitória, terá de mostrar que está aí para cumprir o que prometeu. Se não o fizer, os franceses, por certo, não lhe perdoarão – tal como não perdoaram a François Hollande, o socialista em que muitos acreditaram, não só em França, e agora sai sem honra nem glória.
Esta é a oportunidade da França, e com ela a Europa, se reinventar, criando algo novo. A alternativa não será surpresa. O populismo continuará a crescer, com tudo o que de pior encerra. Marine Le Pen e todos os seus seguidores espalham o medo e a mentira para cativar o eleitorado, como ficou provado nas últimas eleições de domingo, com a candidata a pedir o fecho das fronteiras, quando já todos sabiam que o autor do último atentado era um cidadão francês. A mentira, enfim, como meio para chegar ao Poder. De Macron, os franceses e a Europa esperam a verdade. O contrário, é abrir mais ainda as portas ao extremismo.