REVOLUÇÃO PREPARADA DENTRO DE UM CARRO NA RÉGUA
Em abril de 1974, Delfim dos Passos era capitão no Regimento de Infantaria 13 (RI 13) de Vila Real. Na noite do dia 24, em casa, estava a concluir um período de férias. Ansioso, aguardava um sinal, via rádio. Uma senha, para ser mais preciso. “Quando, à meia-noite, ouvi o ‘Depois do adeus’ do Paulo de Carvalho, preparei-me para ir para o quartel. Estava tudo bem encaminhado”. O capitão Passos, então com 34 anos, despediu-se da família. Porque nesta vida, e ainda mais quando se está na iminência de uma revolução, “nunca se sabe se regressamos a casa”. Dirigiuse ao RI 13 e já foi lá que ouviu a “Grândola vila morena”, de Zeca Afonso. Estava tudo a correr conforme os planos definidos pelo Movimento das Forças Armadas. Nos dias que antecederam o 25 de Abril, participou numa reunião preparatória clandestina, dentro de um carro, junto à Estação da Régua. Estavam ele e o capitão Mascarenhas, do RI 13, e mais dois capitães do então Cen-
tro de Instrução de Operações Especiais de Lamego. Como não havia telemóveis e não podiam comunicar via rádio, usavam “siglas e nomes pré-combinados” durante os telefonemas. Naquela noite, a partir da “Grândola vila morena”, tomaram conta de todas as operações dentro do quartel, sempre de forma pacífica. Durante o dia 25, assumiram o controlo de algumas instituições ligadas ao poder na cidade e só no dia 26 é que o capitão Passos presenciou uma grande manifestação de júbilo popular no centro de Vila Real. Delfim dos Passos não assistiria às mudanças imediatas na sociedade vila-realense, pois em junho foi em comissão para Moçambique. Quando regressou a Portugal, foi colocado no Regimento de Infantaria do Porto e, em 1980, foi convidado para ingressar na PSP, tendo terminado a carreira como superintendente.