IML defende que médicos deveriam ter feito exames
Paredes Parecer admite que tumor que matou Sara poderia ser diagnosticado
“A sucessão de recursos à Urgência deste hospital [Padre Américo] em 2012 (sete vezes) por sintomas idênticos – cefaleias, por vezes com vómitos, lipotimia e descontrolo de esfíncteres – deveria ter conduzido à realização de exames para despiste de patologia orgânica cranioencefálica”.
Esta é uma das conclusões do Conselho Médico-Legal, do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF), relativamente ao caso de Sara Moreira, a jovem de Recarei, em Paredes, que morreu com um tumor cerebral, nunca diagnosticado nas dez vezes em que foi observada na unidade do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. No parecer consultado pelo JN, os especialistas começam por reconhecer que “a doença que determinou a morte da doente pode ter sido a causa da sintomatologia que a levou repetidamente ao serviço de Urgência”.
Ansiedade pode ter confundido Mas admitem também que “a existência de sintomas de ansiedade pode ter confundido ou dissimulado as dúvidas relativamente a um glioma cerebral”. Por este motivo, os médicos aceitam que Sara Moreira não tivesse sido submetida a uma tomografia axial computorizada ou a uma ressonância magnética “após as primeiras observações”. Porém, cri- ticam que, na sequência das sucessivas idas da jovem ao Hospital Padre Américo, os médicos não tivessem ordenado a realização destes exames.
“Apesar da existência de antecedentes de ansiedade nesta doente, que podem ser considerados atenuantes de justificação de não terem sido requisitados no início tais exames, esta atitude não pode deixar de ser censurável, porque viola a “leges artis”.
Prolongamento de sobrevida “A realização de exames complementares poderia ter levado a um diagnóstico da lesão neoplástica existente e, apesar de caráter maligno desta e do consequente prognóstico muito reservado, permitir um tratamento adequado da mesma, com prolongamento de sobrevida e melhoria da qualidade de vida da doente”, lê-se no documento.
Recorde-se que este parecer foi pedido, pelo Ministério Público, em 30 de dezembro de 2014. No entanto, o caso só foi apreciado em reunião do Conselho MédicoLegal em 13 de junho de 2016, tendo sido posteriormente anexado ao processo judicial que culminou com a acusação revelada pelo JN na última quinta-feira.
Na mesma acusação, o procurador refere que “o processo interno de averiguações que o hospital levou a cabo concluiu pela inexistência de responsabilidade dos médicos” agora acusados.