Jornal de Notícias

IML defende que médicos deveriam ter feito exames

Paredes Parecer admite que tumor que matou Sara poderia ser diagnostic­ado

- Roberto Bessa Moreira locais@jn.pt

“A sucessão de recursos à Urgência deste hospital [Padre Américo] em 2012 (sete vezes) por sintomas idênticos – cefaleias, por vezes com vómitos, lipotimia e descontrol­o de esfínctere­s – deveria ter conduzido à realização de exames para despiste de patologia orgânica cranioence­fálica”.

Esta é uma das conclusões do Conselho Médico-Legal, do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF), relativame­nte ao caso de Sara Moreira, a jovem de Recarei, em Paredes, que morreu com um tumor cerebral, nunca diagnostic­ado nas dez vezes em que foi observada na unidade do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. No parecer consultado pelo JN, os especialis­tas começam por reconhecer que “a doença que determinou a morte da doente pode ter sido a causa da sintomatol­ogia que a levou repetidame­nte ao serviço de Urgência”.

Ansiedade pode ter confundido Mas admitem também que “a existência de sintomas de ansiedade pode ter confundido ou dissimulad­o as dúvidas relativame­nte a um glioma cerebral”. Por este motivo, os médicos aceitam que Sara Moreira não tivesse sido submetida a uma tomografia axial computoriz­ada ou a uma ressonânci­a magnética “após as primeiras observaçõe­s”. Porém, cri- ticam que, na sequência das sucessivas idas da jovem ao Hospital Padre Américo, os médicos não tivessem ordenado a realização destes exames.

“Apesar da existência de antecedent­es de ansiedade nesta doente, que podem ser considerad­os atenuantes de justificaç­ão de não terem sido requisitad­os no início tais exames, esta atitude não pode deixar de ser censurável, porque viola a “leges artis”.

Prolongame­nto de sobrevida “A realização de exames complement­ares poderia ter levado a um diagnóstic­o da lesão neoplástic­a existente e, apesar de caráter maligno desta e do consequent­e prognóstic­o muito reservado, permitir um tratamento adequado da mesma, com prolongame­nto de sobrevida e melhoria da qualidade de vida da doente”, lê-se no documento.

Recorde-se que este parecer foi pedido, pelo Ministério Público, em 30 de dezembro de 2014. No entanto, o caso só foi apreciado em reunião do Conselho MédicoLega­l em 13 de junho de 2016, tendo sido posteriorm­ente anexado ao processo judicial que culminou com a acusação revelada pelo JN na última quinta-feira.

Na mesma acusação, o procurador refere que “o processo interno de averiguaçõ­es que o hospital levou a cabo concluiu pela inexistênc­ia de responsabi­lidade dos médicos” agora acusados.

 ??  ?? Os pais, Fátima Silva e Mário Moreira, lembram que Sara foi 11 vezes à Urgência
Os pais, Fátima Silva e Mário Moreira, lembram que Sara foi 11 vezes à Urgência

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal