Jornal de Notícias

“As chegas têm mais público que alguns jogos de futebol”

Montalegre Campeonato de Chegas de Bois de Raça Barrosã começa hoje e vai até agosto. Todos querem destronar o bicampeão Cabano

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“As chegas de bois são o desporto-rei na região do Barroso. Chegam a ter mais público que muitos jogos de futebol”, garante Horácio dos Santos, que este ano quer recuperar o título de campeão, alcançado em 2014 e 2015, com o boi Cabano. É que, tratando-se do título mais cobiçado pelos proprietár­ios de bois da raça barrosã, em Montalegre, todos querem ter o animal “mais forte”.

A corrida ao título do Campeonato de Chegas de Bois de Raça Barrosã começa hoje. O chegódromo vai encher-se de público para assistir ao primeiro confronto. “Os animais entram em campo e turram até um deles, por medo, cansaço ou outro motivo, desistir. Ou como costumamos dizer, virar o cu e fugir”, explica Nuno Duarte, presidente da Associação Etnográfic­a O Boi do Povo, que promove o torneio em parceria com a Câmara de Montalegre.

Diz quem sabe que é o instinto dos animais que os leva a turrar. Os bois encaram o adversário, avançam e recuam, numa luta que pode durar segundos ou horas. “Não é algo que se ensina. Os bois não são obrigados a nada e cada um decide o que quer fazer”, conta Nuno Duarte.

Durante a chega, Horácio dos Santos limita-se a incentivar Cabano, com nove anos. “Vai lá, vai!”, diz-lhe, com voz firme, durante as chegas. Fora do campo, o público também puxa pelos bovinos e cada um torce pelo seu preferido.

Em tempos idos, cada aldeia tinha o seu boi e todos ajudavam a tratar dele. O animal, que tinha funções essencialm­ente reprodutor­as, era chamado de “boi do povo”. As chegas colocavam frente a frente cada uma das aldeias, que rivalizava­m entre si pelo título. A partir de hoje, será a vez de Cabano e outros 15 lutarem até à vitória, na final, a 10 de agosto.

A recuperaçã­o das chegas, há cerca de duas décadas, teve como objetivo aumentar o efetivo de bois barrosões. A raça estava votada ao desprezo, uma vez que muitos produtores optavam por inseminaçã­o artificial e outras espécies bovinas de cresciment­o mais rápido. Os bois da raça barrosã distinguem-se dos demais pela sua armadura córnea consideráv­el, que se projeta quase verticalme­nte e em forma de lira.

Este ano, vamos ter 16 bois a competir no torneio, que chega a ter 1500 pessoas a assistir na final, em agosto. É um espetáculo que atrai multidões”

Nuno Duarte

Presidente Assoc. O Boi do Povo “A primeira chega vai ser dura, mas quero chegar à final com o Cabano. Ele é um boi especial e espero conseguir o terceiro título consecutiv­o”

Horácio dos Santos

Produtor de raça barrosã

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Pinheiro e Galhardo têm dois anos, são descendent­es de Cabano e já gostam de turrar como o pai
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