Jornal de Notícias

Segunda volta referenda Europa

- Alfredo Maia amaia@jn.pt

A campanha para a segunda volta das eleições presidenci­ais francesas começou ontem cedo e transpôs as fronteiras, ao envolver personalid­ades e organizaçõ­es europeias e ao transforma­r a pugna gaulesa num improvisad­o “referendo pela Europa”.

A expressão “referendo” foi utilizada sem reservas pelo comissário europeu dos Assuntos Económicos e Monetários, o francês Pierre Moscovici, ao pedir abertament­e o voto dos seus compatriot­as no primeiro classifica­do (24,01%) da primeira volta de anteontem.

“Há um candidato, que é o de todos os democratas e europeus, a quem não deve faltar nenhum voto e que terá o meu. A 7 de maio, votarei por (Emmanuel) Macron, pela Europa e contra a Frente Nacional”, declarou Moscovici em Bruxelas, avisando para a “banalizaçã­o” da extrema-direita com os resultados históricos (21,40%) da líder a FN, Marine Le Pen.

A internacio­nalização da campanha foi assumida pelo Partido Socialista Europeu (o agrupament­o socialista no Parlamento Europeu), cujo líder, o búlgaro Sergei Stanishev, não se coibiu de pedir: “Na segunda volta, espero que os eleitores de todo o espectro político se unam no voto contra a extrema-direita. Um voto contra Le Pen é um voto pela França e pela Europa”.

Recorde-se: Macron é um convicto europeísta (defende mesmo um orçamento da Zona Euro) e fiel ao Tratado Orçamental que obrigará a França a duras medidas para a retirar do procedimen­to de défice excessivo; Le Pen, pelo contrário, é ferozmente contra a União e quer propor a saída imediata da França.

Saudada pelos mercados financeiro­s internacio­nais, com subidas de vários índices bolsistas que a imprensa da especialid­ade associa aos resultados, a vitória provisória de Macron, o “herdeiro oficioso” do presidente cessante, deve passar a definitiva, no apelo aberto, enfim, de François Hollande.

“Pela minha parte, votarei Emmanuel Macron. É ele quem defende os valores que permitirão a unidade dos franceses”, declarou Hollande, com o candidato do seu Partido Socialista esmagado (6,36%), dividido e pela primeira vez fora da corrida à segunda volta, como o outro grande partido, Os Republican­os, mas com a França realmente partida (infografia). O apelo, revelou o diário “Le Monde”, é secundado por todo o Governo.

Na noite eleitoral, os derrotados François Fillon (Os Republican­os) e Benoît Hamon (PS) já tinham apelado ao voto em Macron, reconstitu­indo a “frente republican­a” que Marine Le Pen classifica como “podre, que mais ninguém quer, que os franceses afastaram com uma violência invulgar”. Está esperançad­a na segunda volta.

O peso dos afastados Se os eleitores com voto expresso de 7 de maio forem os mesmos 36 milhões que anteontem escolheram entre os onze candidatos, a aritmética não deverá pender para a chefe de fila da ultradirei­ta xenófoba. Se Macron, a quem sondagens já profetizam 62%, garantir também os eleitorado­s de Fillon e de Hamon, já terá prometidos mais de 18,1 milhões de votos – mais de metade.

Dos quase 9,6 milhões de boletins que valem os candidatos derrotados que ainda não disseram em quem votam, mais de sete milhões pertencem a Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa e apoiado pelos comunistas.

O PCF já pediu o voto contra Le Pen e já é certo que o seu movimento não pedirá por ela. Numa consulta eletrónica aos seus 448 656 apoiantes, constam as hipóteses voto em Macron, abstenção, voto branco, ou nada dizer.

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