Segunda volta referenda Europa
A campanha para a segunda volta das eleições presidenciais francesas começou ontem cedo e transpôs as fronteiras, ao envolver personalidades e organizações europeias e ao transformar a pugna gaulesa num improvisado “referendo pela Europa”.
A expressão “referendo” foi utilizada sem reservas pelo comissário europeu dos Assuntos Económicos e Monetários, o francês Pierre Moscovici, ao pedir abertamente o voto dos seus compatriotas no primeiro classificado (24,01%) da primeira volta de anteontem.
“Há um candidato, que é o de todos os democratas e europeus, a quem não deve faltar nenhum voto e que terá o meu. A 7 de maio, votarei por (Emmanuel) Macron, pela Europa e contra a Frente Nacional”, declarou Moscovici em Bruxelas, avisando para a “banalização” da extrema-direita com os resultados históricos (21,40%) da líder a FN, Marine Le Pen.
A internacionalização da campanha foi assumida pelo Partido Socialista Europeu (o agrupamento socialista no Parlamento Europeu), cujo líder, o búlgaro Sergei Stanishev, não se coibiu de pedir: “Na segunda volta, espero que os eleitores de todo o espectro político se unam no voto contra a extrema-direita. Um voto contra Le Pen é um voto pela França e pela Europa”.
Recorde-se: Macron é um convicto europeísta (defende mesmo um orçamento da Zona Euro) e fiel ao Tratado Orçamental que obrigará a França a duras medidas para a retirar do procedimento de défice excessivo; Le Pen, pelo contrário, é ferozmente contra a União e quer propor a saída imediata da França.
Saudada pelos mercados financeiros internacionais, com subidas de vários índices bolsistas que a imprensa da especialidade associa aos resultados, a vitória provisória de Macron, o “herdeiro oficioso” do presidente cessante, deve passar a definitiva, no apelo aberto, enfim, de François Hollande.
“Pela minha parte, votarei Emmanuel Macron. É ele quem defende os valores que permitirão a unidade dos franceses”, declarou Hollande, com o candidato do seu Partido Socialista esmagado (6,36%), dividido e pela primeira vez fora da corrida à segunda volta, como o outro grande partido, Os Republicanos, mas com a França realmente partida (infografia). O apelo, revelou o diário “Le Monde”, é secundado por todo o Governo.
Na noite eleitoral, os derrotados François Fillon (Os Republicanos) e Benoît Hamon (PS) já tinham apelado ao voto em Macron, reconstituindo a “frente republicana” que Marine Le Pen classifica como “podre, que mais ninguém quer, que os franceses afastaram com uma violência invulgar”. Está esperançada na segunda volta.
O peso dos afastados Se os eleitores com voto expresso de 7 de maio forem os mesmos 36 milhões que anteontem escolheram entre os onze candidatos, a aritmética não deverá pender para a chefe de fila da ultradireita xenófoba. Se Macron, a quem sondagens já profetizam 62%, garantir também os eleitorados de Fillon e de Hamon, já terá prometidos mais de 18,1 milhões de votos – mais de metade.
Dos quase 9,6 milhões de boletins que valem os candidatos derrotados que ainda não disseram em quem votam, mais de sete milhões pertencem a Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa e apoiado pelos comunistas.
O PCF já pediu o voto contra Le Pen e já é certo que o seu movimento não pedirá por ela. Numa consulta eletrónica aos seus 448 656 apoiantes, constam as hipóteses voto em Macron, abstenção, voto branco, ou nada dizer.