Deco quer acabar com chamadas de auxílio pagas
Consumidores pagam sempre que ligam para linhas começadas por 707 sem qualquer aviso prévio
Pouca gente faz contas, mas cada vez que liga para as linhas de apoio ao cliente, através de números começados por 707 ou 708, está a gastar dez cêntimos por minuto, se ligar de rede fixa, e 25 cêntimos por minuto, se o fizer por uma rede móvel, mais 23% de IVA. A Deco – que recebe muitas reclamações por causa do custo elevado destas chamadas – defende o fim destas linhas.
Isto ocorre numa era em que a maioria das pessoas tem contratados pacotes de TV, voz e net que incluem, na maior parte dos casos, centenas ou milhares de minutos de conversação “grátis”, nomeadamente para os números começados por 2. Ora, 707 e afins não estão incluídos.
A jurista da Defesa do Consumidor (Deco) Ingride Pereira defende que “as empresas e as instituições públicas deveriam disponibilizar sempre um número de rede fixa começado por 2 para o apoio ao cliente e não números de valor acrescido”. Caso contrário, o consumidor está a pagar para pedir ajuda ou reclamar sobre um serviço que já lhe é faturado. É caso para dizer: “O cliente paga e ainda é mal servido”.
A jurista salienta que “muitos consumidores não têm a noção dos custos destas chamadas”. Assim, “seria importante que, à semelhança do que acontece com os números de valor acrescentado, quando o consumidor ligasse para um 707 deveria ouvir uma gravação inicial que o informasse sobre o que vai pagar”.
Apesar disso, em relação à existência destes números 707 não há muitas reclamações, sublinha Ingride Pereira. As muitas denúncias que que Deco recebe são so- bre o elevado custo dessas chamadas, seja porque as esperas são longas ou porque os consumidores têm de efetuar vários contactos até resolverem a situação.
Entre os organismos públicos, a Autoridade Tributária tinha um contacto começado por 707 e alterou-o para um começado por 2. Já a Segurança Social abandonou, vai para dois anos, o 808 (custo da chamada local) e passou a disponibilizar um começado por 300, que tem um custo de chamada para a rede fixa. Fonte do Instituto da Segurança Social assegura, porém, que à exceção de um dos operadores, todos têm gratuitidade de comunicações para os números iniciados por 300.
Os 707 proliferam nas mais di- versas empresas, seja nas concessionárias das autoestradas, como a Brisa e a Ascendi, seja nos transportes, seguradoras, entre outras.
Fonte oficial da Brisa explica ao JN que segue “a orientação adotada pela Infraestruturas de Portugal” e que “o 707 é um número nacional que garante equidade no tratamento a todos os clientes”. Acrescenta que “todos os serviços previstos e estipulados no contra-
Brisa, Ascendi, TAP e CP têm números de custo acrescido para os clientes
to de concessão são prestados gratuitamente pela Brisa”.
A Ascendi informa que tem “um conjunto de formas gratuitas de contacto, nomeadamente através do site, do posto de atendimento, dos centros de assistência e manutenção e dos postos de SOS”. A TAP destaca que tem “canais de atendimento 100% gratuitos” através do seu site, além de disponibilizar “um número fixo iniciado por 21 para os clientes que não tenham acesso ao 707”. A CP explica que “existem canais alternativos sem custos para o cliente”, nomeadamente um chat com “tempos médios de espera inferiores aos das chamadas” e o e-mail que “é respondido em 98% dos casos em 24 horas”.