Hospitais pagam a dois anos
Fornecedores Dívida à indústria farmacêutica cresce a um ritmo de 1,5 milhões de euros por dia desde fevereiro. Tutela liberta 45 milhões
As dívidas dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) aos fornecedores não param de aumentar e os prazos médios de pagamento são cada vez maiores, com unidades a demorarem dois anos para saldar as dívidas e “muitas” a pagarem a 400 dias.
Em março, os pagamentos em atraso no SNS totalizavam 702 milhões de euros e a dívida vencida atingiu os 1,1 milhões de euros, admitiu a presidente da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS). Ouvida na Comissão de Saúde, Marta Temido disse que, no mês passado, o crescimento da dívida desacelerou, mas admitiu ver os números com preocupação. A responsável adiantou que vão ser libertados este mês 45 milhões de euros da ACSS para pagar faturas em atraso.
Horas antes, o presidente da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) afirmava que a dívida dos hospitais às farmacêuticas cresce a um ritmo de 1,5 milhões de euros por dia desde fevereiro, tendo atingido os 892 milhões de euros em março.
Já as faturas por pagar às empresas de dispositivos médicos somavam 275 milhões em março (mais 8% do que em março de 2016). E os prazos médios de pagamento aumentaram 35 dias face ao período homólogo de 2016, atingindo os 333 dias.
Hospitais como os de Setúbal, Santarém e Centro Hospitalar Lisboa Norte demoram dois anos a pagar as faturas e “muitos” outros pagam a 400 dias, referiu o secretário-geral da Associação Portuguesa de Dispositivos Médicos (Apormed). João Gonçalves referiu que, em regra, os hospitais do Norte pagam melhor do que os do Sul, mas classificou 2016 como um ano que trouxe “graves problemas de tesouraria” às empresas.
O vice-presidente da Apormed, Luís Graça revelou que, entre dezembro de 2016 e março deste ano, aumentaram em 40% os produtos colocados nos hospitais à consignação (mais oito milhões de euros). Este procedimento permite que os hospitais usem os dispositivos médicos, mas só emitam as notas de encomenda “meses depois”, o que significa que as dívidas e os prazos médios de pagamento são superiores ao refletido. A presidente da ACSS aceita as consignações nalguns casos, como cirurgias específicas, mas nunca para ocultar despesa.