45 anos Comuna “O teatro deve dar passos em frente”
A Comuna, Teatro de Pesquisa, celebra 45 anos de existência levando à cena a peça “Henrique IV”, de Luigi Pirandello. Com esta nova produção, a companhia assinala também os 60 anos de carreira de João Mota e os 50 de Carlos Paulo, dois dos seus mentores.
João Mota explicou que a peça que escolheu para assinalar a efeméride é uma das suas preferidas. “É uma homenagem ao teatro. Questiona o que é ser ator, o que é a criação. Questiona a própria natureza humana”. E sublinha que os momentos de angústia anunciados pelo personagem são muito atuais. “Isso é o lado que acho que a criação tem. Servimo-nos do presente para anunciar o futuro. Temos de ter uma posição crítica sobre a sociedade em que vivemos. Mas isso é uma coisa que nos está a faltar”.
“Saudades? Só do futuro”
Ao olhar para os 45 anos da companhia de que foi um dos fundadores, o ator e encenador diz que as lutas de hoje em dia são muito parecidas com as de então, sobretudo no que diz respeito à ausência de meios. “A falta de investimento na cultura e no apoio às artes é confrangedora. Ao longo de 45 anos, a Comuna teve coragem para avançar com os seus projetos, mas também é sinal de coragem dizer já chega. Por vezes queremos acompanhar o sonho e não podemos”.
Mas, mesmo assim, diz-se otimista. “Estar em crise cria o perigo de nos acomodarmos. E é exatamente aí que o teatro tem um papel muito importante. O teatro deve dar passos em frente, inquietar, projetar futuros”.
Nestes 40 anos, a Comuna acabou por ganhar contornos de escola. Como sublinha Carlos Paulo, outro dos fundadores, “por aqui passaram outras tantas gerações de atores e criadores que aprenderam com João [Mota] a descobrirem-se a si próprias”. Tudo, resume o visado, porque “isto do teatro é uma paixão. Sou otimista”, diz. “E saudades, só do futuro”.