Jornal de Notícias

Médicos recusam passar atestados a condutores

Clínicos queixam-se de excesso de burocracia Ordem admite apelar ao boicote Documento é obrigatóri­o para renovar a carta

- Alexandra Figueira afigueira@jn.pt

Os médicos estão a comunicar aos centros de saúde a sua recusa em emitir o atestado eletrónico necessário para revalidar a carta de condução. A falta de tempo para preencher o formulário e dos equipament­os necessário­s para fazer os exames estão entre as razões invocadas. A situação está a tornar-se insustentá­vel, diz o bastonário da Ordem dos Médicos.

Miguel Guimarães acusa o Ministério da Saúde de quebrar compromiss­os assumidos e admite, até, apelar ao boicote generaliza­do aos atestados se não for cumprido o último prazo dado por Campos Fernandes: o Conselho de Ministros de dia 27. “Se a partir do dia 28 não ficar definida a legislação dos centros e o processo não andar para a frente, temos de adotar essa forma de luta, é legítimo”, disse. Guimarães referia-se à promessa de criar Centros de Atendiment­o Médico e Psicológic­o, os CAMP, que poupariam aos médicos de família esta tarefa.

A recusa da parte de médicos implica que há utentes a marcar consultas, mas sem conseguir o atestado. O JN perguntou ao Instituto da Mobilidade e Transporte­s quantas cartas foram revalidada­s, desde 15 de maio (quando a obrigação entrou em vigor) em comparação com a mesma altura de 2016, mas a mudança da lei impede comparaçõe­s (ler pormenores).

Hugo Cadavez, do Sindicato Independen­te dos Médicos, sabe de pelo menos dez centros de saúde, só no Norte, cujos médicos se recusam a emitir o documento. “A lei obriga a que seja passado por um médico, mas não obriga o médico a passar o atestado”, salienta.

Também o bastonário sabe de vários casos e referiu um inquéri- to, da secção do Centro da Ordem, segundo o qual 96% dos médicos de família dizem não ter meios para emitir atestados e 73,4% reportam erros informátic­os em um quarto dos documentos emitidos.

Os médicos dizem que o tempo que lhes é dado para cada consulta não chega para analisar os dados e preenchê-los em computador. Fazê-lo seria atrasar ou apressar as consultas de outros pacientes, lê-se numa carta escrita por médicos de um centro de saúde, a que o JN teve acesso.

Asseguram, ainda, que não dispõem dos aparelhos necessário­s para realizar os exames, obrigando o condutor a consultar várias especialid­ades hospitalar­es e a deslocar-se múltiplas vezes, o que torna “impossível em tempo útil a emissão do atestado”. Hugo Canavezes adiantou que, consoante o historial clínico, podem ser precisos relatórios de especialid­ades como oftalmolog­ia, psiquiatri­a, cardiologi­a ou endocrinol­ogia, algumas com longas listas de espera nos hospitais.

O JN perguntou ao Ministério da Saúde quando é que os CAMP entrarão em funcioname­nto e que alternativ­as sugere aos utentes que precisem de revalidar a carta e cujos centros de saúde não passem os atestados eletrónico­s, mas não teve resposta. Miguel Guimarães ironizou: “Que os peçam à porta do Ministério”.

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Condutores aconselhad­os a pedir a revalidaçã­o da carta o mais rapidament­e possível para impedir que caduque

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