Urologista acusado pela morte de doente
Santa Maria da Feira Juíza manda para julgamento urologista que decidiu não extrair rim. Vítima desabafou a familiares que hospital não iria salvar-lhe a vida
Um médico urologista do Hospital de S. Sebastião, em Santa Maria da Feira, vai ser julgado por crime de homicídio por negligência. O clínico não terá atuado corretamente no tratamento de um doente que acabou por falecer. Durante o internamento, o paciente chegou a afirmar que estavam a deixá-lo morrer. A decisão foi tomada pelo Tribunal de Instrução Criminal de Santa Maria da Feira, na sequência de um pedido da família da vítima, depois de o Ministério Público ter inicialmente decidido arquivar o processo.
Os factos remontam a 17 de fevereiro de 2013 quando o doente, Francisco Ferreira, então com 59 anos, residente em Oliveira de Azeméis, deu entrada no hospital daquela cidade com problemas relacionados com o rim esquerdo.
O paciente acabou transferido para o Hospital S. Sebastião e, depois de efetuados exames, envia- do para o Hospital Santo António, no Porto. Nesta unidade de saúde foi sujeito a novos exames e decidida uma operação urgente que consistiria na extração do rim esquerdo doente. A família foi informada da operação e deslocou-se ao hospital. Francisco Ferreira foi encontrado numa maca, despido, tapado apenas com um lençol, a tremer e sozinho. Estava com febre e só foi assistido após insistência da família.
Porém, efetuados novos exames no Hospital de Santo António, foi decidido não operar Francisco Ferreira, apesar do seu estado de saúde debilitado. Em vez disso, foi novamente enviado para o Hospital S. Sebastião (Santa Maria da Feira), onde permaneceu nos dias seguintes com quadro clínico instável. Foi neste hospital que o médico urologista (R.O.) optou por não extrair o rim esquerdo. Inclusivamente, emitiu parecer favorável a alta da Unidade de Cuidados Intermédios e transferência para o Serviço de Urologia. Só que, mediante a análise das opiniões de peritos médicos, a juíza de Santa Maria da Feira concluiu que a extração do rim era mesmo necessária para salvar a vida do doente.
“Eles vão deixar-me morrer”, “querem-me aqui para cobaia”, “porque não me operam” e “tirem-me daqui e levem-me para outro hospital”, desabafou Francisco Ferreira aos familiares, antes de falecer, a 26 de fevereiro de 2013, após paragem cardiorrespiratória, na sequência de uma infeção generalizada.