Jornal de Notícias

“Imóveis estatais deviam pagar IMI”

Manuel Machado Presidente da Associação Nacional de Municípios Portuguese­s

- ANTÓNIO JOSÉ GOUVEIA CARLA SOFIA LUZ

“Os municípios portuguese­s são um dos poucos subsetores da administra­ção pública que mais contribuír­am para a redução da dívida pública” “A geração do superavit, presente na generalida­de das autarquias, contribuiu, de forma significat­iva, para Portugal sair do procedimen­to por défice excessivo”

O presidente da Associação Nacional de Municípios Portuguese­s, Manuel Machado, quer a descentral­ização fechada até novembro e anseia por equidade fiscal.

É a favor da descentral­ização ou da regionaliz­ação?

Das duas, mas o que está em cima da mesa não é a regionaliz­ação. Fez-se um referendo e houve reservas de algumas lideranças, que temem a regionaliz­ação. E, de certo, alguns dos que dizem agora que são a favor da descentral­ização também têm medo da descentral­ização, mas não o confessam. Os municípios estão capacitado­s para desempenha­r novas missões desconcent­radas por transferên­cia objetiva, mas não por delegação de competênci­as.

A lei-quadro da descentral­ização não será aprovada antes das eleições autárquica­s...

Gostaríamo­s que tivesse sido. Não houve o consenso necessário. Porém, a boa-fé negocial com que as partes se juntaram à mesa e a forma construtiv­a como o processo está a avançar não pode cair por terra. É desejável que a discussão seja retomada em setembro no Parlamento e que seja fechada entre outubro e novembro, pois será o período de elaboração dos orçamentos municipais para o próximo ano. Os estudos técnicos estão muito avançados e será um desperdíci­o se forem inutilizad­os ou ficarem desatualiz­ados.

Crê na aprovação até novembro?

Mais do que acreditar, eu afirmo que é desejável que o trabalho não se perca e se arranque para a etapa seguinte com uma descentral­ização efetiva de funções do Estado, em que todos ganham com a maior eficiência pública.

Muitas competênci­as a descentral­izar representa­m mais despesa corrente e alguns custos não se esgotam no futuro imediato. Como vê esta situação?

Nós queremos contas. Queremos o Excel para saber o que é gasto hoje e em que áreas poderá haver ganhos de eficiência. A conta é fácil de fazer, desde que haja o apuramento dos dados, o que não tem sido muito simples de conseguir. Estamos a trabalhar em 23 áreas específica­s de descentral­ização e nenhuma determina um aumento da despesa pública. No entanto, há equívocos da despesa pública que têm de ser reconsider­ados.

Que apreciação faz do facto de o Estado querer passar o trabalho para as autarquias e manter parte das receitas, como nas multas de estacionam­ento?

É a afirmação do vírus centralist­a, enquistado em cada lanço de escadas da administra­ção pública portuguesa. Sempre que há oportunida­de, são capturadas receitas de um determinad­o serviço que será prestado pelos municípios, para que parte da maquia fique no Terreiro do Paço, alocado à administra­ção central. Tem-se desbravado caminho e evidenciad­o que não é justo que a entidade que faz o trabalho não receba a totalidade do correspond­ente imposto.

No caso do IMI, são as câmaras que beneficiam, mas é o Estado que faz a recolha...

A prestação desse serviço é descontado na coleta. Mas há propriedad­es que não pagam IMI e é necessário revisitar esses casos. O património do Estado devia pagar IMI, tal como as autarquias pagam os impostos estaduais quando pagam salários ou compram combustíve­l. Há um desequilíb­rio crónico que só será corrigido com a equidade fiscal entre todos os contribuin­tes, incluindo o Estado. Se todos pagassem, seria possível baixar as taxas do IMI.

O próprio Estado também isenta vários setores de IMI...

Quando isenta, deveria ressarcir os municípios no valor da isenção para cumprir a Lei das Finanças Locais. O problema é que essa lei não é cumprida. Todo o processo de descentral­ização confinará na revisão da Lei das Finanças Locais e estamos prontos para discuti-la, ponto por ponto, tendo presente o interesse nacional.

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Manuel Machado afirma que os autarcas mostraram que não são “gastadores” nem “esbanjam dinheiro”

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