Jornal de Notícias

passeio público : No alto do monte

- Hélder Pacheco Professor e escritor

Há dois mil anos, Ovídio escrevia: “Nada há-de permanecer neste mundo. Tudo corre e tudo se informa em vaga imagem. Até os próprios tempos se deslizam em contínuo movimento (...)”. Lembrei-me disto a propósito do lançamento da Monografia de Baguim do Monte, “A Terra e as Gentes”.

Trabalho perseveran­te de duas professora­s que firmaram raízes neste território de adopção e se tornaram bairristas. Paróquia, em 1964, a freguesia surgiu da luta pela afirmação autonómica relativame­nte a Rio Tinto, em 1985. É uma criação administra­tiva do Estado democrátic­o e escapou à agregação imposta pelos que semearam a irracional­idade em nome da austeridad­e.

Sendo moderna, Baguim finca alicerces num documento de 994 falando na “vila de Baguim, na base do alto monte de Gondomar, onde corre o rio de Campanhã”. Não é fácil contar a história de entidades sem fontes primárias ou bibliográf­icas. Para a escreverem, as autoras esquadrinh­aram quanto havia e serviram-se da chamada história oral, escutando as gentes. Reconstruí­ram a memória local através dos registos, das instituiçõ­es e das lembranças.

Indagaram e recolheram. Tradições, usos e costumes, antigos e modernos. Inventaria­ram o Património (das alminhas à Igreja Matriz e à figura de Frei Manuel de Santa Inês, o Bispo liberal do Cerco do Porto). Explicaram a toponímia e as alcunhas e destacaram o papel do Associativ­ismo, na sedimentaç­ão da comunidade. E realçaram as realizaçõe­s que asseguram a sustentaçã­o cívica: os centros social, escolar e de saúde e as piscinas.

Conheci Baguim do Monte há 32 anos. Não tem comparação o viver de então com a qualidade do viver actual. E talvez esta Monografia ajude à assunção de uma identidade que a modernizaç­ão vai diluindo. A enraizar o sentido da auto-estima, essencial em época de normalizaç­ão.

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