O bigode surrealista que marca as 10.10
Exumação Corpo de Dalí foi ontem analisado para comprovar paternidade
A história parece toda maquinada pela cabeça surrealista do próprio Salvador Dalí. Ontem, a múmia do artista plástico foi exumada e retiraram-lhe uma tíbia e perónio, dentes e duas unhas para determinar se uma cartomante de um canal televisivo catalão, Pilar Abel, é sua filha. Aberta a urna de zinco, a comoção dos técnicos forenses e dos responsáveis da Fundação Gala-Dalí foi grande, ao constatar que o seu icónico bigode continuava, passados 28 anos, na mesma posição, a assinalar as 10.10 horas.
O mesmo bigode que impediu que lhe fizessem uma máscara mortuária; o bigode que Pilar Abel diz que lhe falta para mostrar a evidência da paternidade; o bigode cujo pelo foi vendido por dez mil dólares a Yoko Ono; o bigode que originou um livro de humor absurdo, publicado pelo próprio Dalí e pelo fotógrafo Philippe Halsman, em 1954.
Em setembro serão divulgados os resultados da exumação. Se Pilar Abel não for filha de Salvador Dalí, a Fundação quer imputar-lhe o pagamento do procedimento e ainda quer que indemnize a Fundação pelas 4000 entradas que não vendeu ontem, número médio de bilhetes que se vendem durante o verão, o que rondará os 56 mil euros.
Muito crítico deste processo é o médico que embalsamou o autor dos “Relógios fundidos” – ele afirma que Pilar Abel deveria ser “acusada de profanação de cadáver” e que “um morto sem família é dos seres mais indefesos que podem existir”. Mas, caso seja reconhecida como filha, Pilar terá direito a um quarto da herança do artista, ficando o Estado espanhol, seu herdeiro universal, a perder. Mas ela diz que o que a move não é o dinheiro, mas sim saber se aquele homem, com quem nunca falou mas com quem trocava olhares em criança, é ou não o seu pai, como lhe garantia a avó.