Prejuízo de 74 milhões e famílias desesperadas sem luz
São conhecidos hoje os apoios à reconstrução
Cinco dias depois da passagem da tempestade Leslie pela Região Centro, ainda há localidades sem eletricidade, com os moradores a não saber quando voltará. Velas, lanternas e geradores têm sido a “tábua de salvação” dos habitantes. Segundo a EDP, a cobertura do fornecimento já abrange 94% da zona afetada. Mesmo assim, são cerca de 20 mil pessoas que ainda não têm eletricidade.
Os concelhos de Figueira da Foz, Soure, Montemor-o-Velho, Marinha Grande, Condeixa, Cantanhede e Leiria estimam prejuízos totais de 78 milhões de euros. O caso mais grave é na Figueira da Foz, com 32 milhões. Em Montemor-o-Velho, a primeira estimativa aponta para danos na ordem dos 21 milhões de euros, enquanto em Soure, o presi- dente da Câmara, contabiliza os prejuízos em sete milhões, “mas o número está em permanente atualização”. Na Marinha Grande há prejuízos de cinco milhões, em Condeixa-a-Nova quatro milhões, Cantanhede sete milhões e dois milhões em Leiria.
SAUDADES DA TV
“Até já tenho saudades de ouvir rádio e ver televisão”, lamenta, ao JN, Fernanda Rocha, habitante na aldeia de Carvalhal, na Figueira da Foz. A casa onde vive com o marido, a filha, genro e netas, ficou sem eletricidade no sábado, às 22 horas, e ainda não foi restabelecido o fornecimento. “A minha grande preocupação é a minha mãe, que está acamada. Tenho de lhe aquecer a comida e o leite num forno artesanal que tenho no anexo”, conta. No frigorífico já há pouca coisa disponível, com Fernanda a admitir ter de ser criativa todos os dias para cozinhar. “O meu filho levou a arca para casa dele, porque lá há luz”, conta.
UMA NOITE HORRÍVEL
A tempestade de sábado é descrita por Fernanda Rocha como “horrível”. O marido refugiou-se num pavilhão gimnodesportivo e, sem comunicações, só chegou a casa às três da madrugada. Das netas, de 12 e 16 anos, só soube mais tarde, com a notícia que tinham dormido em casa de uma amiga. Até os momentos de festa foram abalados pela passagem da Leslie: “O meu marido fez anos no domingo e tivemos de beber o espumante quente”, aponta, sem ainda saber quando voltará a ter luz.
Uns metros mais abaixo, Vítor Fernandes tem um gerador a trabalhar quase todo o dia. “Só o desligo às 23 horas, quando vou para a cama”, revela. Indignado
com a falta de informação da EDP, Vítor gastou, nos últimos três dias, quase 50 euros de gasolina para abastecer o gerador. “Vou apresentar estas faturas à EDP. Quero saber quem paga isto. Pago o aluguer do contador e, se não pagar a conta da eletricidade, vêm cá cortar. Como fica esta situação?”, questiona.
O irmão de Vítor, José Carlos, veio de propósito do Luxemburgo, onde trabalha na construção civil. Contabilizou 180 telhas partidas no telhado de casa enquanto aguarda que o fornecimento de luz seja reposto. “O que vale é que não tinha comida nas arcas”, conta.
Na aldeia de Casais de Cima, também na Figueira da Foz, a eletricidade só voltou ontem. “Valeu-me um forno a lenha e as velas que tinha guardadas para pôr no cemitério”, sublinha, ao JN, Celeste Pinto, uma das habitantes.