Saída polémica de Rovisco Duarte
Rovisco Duarte alegou “razões pessoais” em carta enviada ao presidente, mas em nota interna justifica decisão com exigências das “circunstâncias políticas”
DEFESA Nem na saída o chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) evitou a polémica. Por “razões pessoais”, diz na carta de demissão, ou por “circunstâncias políticas”, como alega na nota interna, Rovisco Duarte pediu a demissão. A oposição garante que a investigação a Tancos não irá parar.
A saída de Azeredo Lopes, sexta-feira, tinha deixado pouca margem de manobra ao CEME. E, se dúvidas houvesse, o presidente do PS dissipou-as. “O Ministério da Defesa [com a entrada do ministro João Gomes Cravinho há três dias] ganhou um novo fôlego, uma nova autoridade que espero também que tenha consequências do ponto de vista das Forças Armadas, em particular do Exército”, disse Carlos César, na TSF.
Poucas horas depois, a Presidência da República revelava “uma carta do general Francisco José Rovisco Duarte que, invocando razões pessoais, pede a resignação”. Todavia, numa nota enviada pela rede interna do Exército, apresentam-se outros motivos. “Circunstâncias políticas assim o exigiram”, escreveu o general.
O primeiro-ministro considerou “normal” o pedido de exoneração por “motivos pessoais”. Confrontado com as “circunstâncias políticas” da nota interna, Costa remeteu para a carta enviada pela Presidência, argumentando que é “nessa base” que trabalha.
COSTA PODE SER OUVIDO
Para o CDS, a demissão era “inevitável” e, agora, quer explicações, admitindo pedir a audição do primeiro-ministro na Comissão de Inquérito por si requerida. “O elo comum que travou estas demissões, que pedimos há um ano e agora há poucos meses” é o primeiro-ministro e, “cabe, no limite”, a ele dizer “porque aconteceu”, explicou o deputado Telmo Correia.
Pelo PSD, Carlos Peixoto alertou que a gravidade de Tancos “não se apaga nem se esquece” e o caso “não fica resolvido” com a demissão. Lembrando que a saída surge após Carlos César dizer que esperava consequências, o deputado afirma que o PSD levará o caso até “às últimas consequências”.
O deputado comunista Jorge Machado assegurou que nenhuma demissão, do CEME ou do ministro, retira “vontade política” ao PCP de “apurar tudo”. Também o BE irá continuar a pugnar para que o “processo vá até ao fim”. “Exigimos que se apurem todas as responsabilidades, mas temos é de garantir que o Ministério Público faça o seu trabalho, sem pressões de qualquer ordem”, disse João Vasconcelos.
A Associação de Oficiais das Forças Armadas considerou a demissão do CEME “inesperada”, atendendo à “resiliência” demonstrada e por estar apenas a seis meses do final do mandato.