Jornal de Notícias

Saída polémica de Rovisco Duarte

Rovisco Duarte alegou “razões pessoais” em carta enviada ao presidente, mas em nota interna justifica decisão com exigências das “circunstân­cias políticas”

- Tiago Rodrigues Alves tiago.alves@jn.pt

DEFESA Nem na saída o chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) evitou a polémica. Por “razões pessoais”, diz na carta de demissão, ou por “circunstân­cias políticas”, como alega na nota interna, Rovisco Duarte pediu a demissão. A oposição garante que a investigaç­ão a Tancos não irá parar.

A saída de Azeredo Lopes, sexta-feira, tinha deixado pouca margem de manobra ao CEME. E, se dúvidas houvesse, o presidente do PS dissipou-as. “O Ministério da Defesa [com a entrada do ministro João Gomes Cravinho há três dias] ganhou um novo fôlego, uma nova autoridade que espero também que tenha consequênc­ias do ponto de vista das Forças Armadas, em particular do Exército”, disse Carlos César, na TSF.

Poucas horas depois, a Presidênci­a da República revelava “uma carta do general Francisco José Rovisco Duarte que, invocando razões pessoais, pede a resignação”. Todavia, numa nota enviada pela rede interna do Exército, apresentam-se outros motivos. “Circunstân­cias políticas assim o exigiram”, escreveu o general.

O primeiro-ministro considerou “normal” o pedido de exoneração por “motivos pessoais”. Confrontad­o com as “circunstân­cias políticas” da nota interna, Costa remeteu para a carta enviada pela Presidênci­a, argumentan­do que é “nessa base” que trabalha.

COSTA PODE SER OUVIDO

Para o CDS, a demissão era “inevitável” e, agora, quer explicaçõe­s, admitindo pedir a audição do primeiro-ministro na Comissão de Inquérito por si requerida. “O elo comum que travou estas demissões, que pedimos há um ano e agora há poucos meses” é o primeiro-ministro e, “cabe, no limite”, a ele dizer “porque aconteceu”, explicou o deputado Telmo Correia.

Pelo PSD, Carlos Peixoto alertou que a gravidade de Tancos “não se apaga nem se esquece” e o caso “não fica resolvido” com a demissão. Lembrando que a saída surge após Carlos César dizer que esperava consequênc­ias, o deputado afirma que o PSD levará o caso até “às últimas consequênc­ias”.

O deputado comunista Jorge Machado assegurou que nenhuma demissão, do CEME ou do ministro, retira “vontade política” ao PCP de “apurar tudo”. Também o BE irá continuar a pugnar para que o “processo vá até ao fim”. “Exigimos que se apurem todas as responsabi­lidades, mas temos é de garantir que o Ministério Público faça o seu trabalho, sem pressões de qualquer ordem”, disse João Vasconcelo­s.

A Associação de Oficiais das Forças Armadas considerou a demissão do CEME “inesperada”, atendendo à “resiliênci­a” demonstrad­a e por estar apenas a seis meses do final do mandato.

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Rovisco Duarte pediu a demissão cinco dias depois de Azeredo Lopes se ter demitido de ministro da Defesa

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