Jornal de Notícias

Violadores sem pena

- Vítor Santos POR Editor-executivo

É cada vez mais perigoso ser mulher em Portugal. Sobretudo quando o desrespeit­o sai dos becos, das discotecas ou das quatro paredes de um lar desfeito para se instalar nos tribunais. Gosto de acreditar na justiça, dá-me um certo conforto, enquanto cidadão, pensar que os criminosos são punidos e os inocentes ressarcido­s. Mas há crimes que deixam marcas eternas, independen­temente de uma punição exemplar. É nesse restrito círculo de malvadez que enquadro a violação. Nestes casos, um juiz tem de ter mão firme. Tem de ser exemplar.

Um violador é um cobarde. Sem desculpa, merece bem carregar a culpa e pagar bem cara a dívida à sociedade. Porque nunca poderá compensar a vítima. É impossível ressarci-la e somos até confrontad­os com o drama de mulheres que não mais conseguem ultrapassa­r um estigma muito difícil de ser carregado. Enfim, são feridas abertas para sempre.

Não compreendo, por isso, que um homem que dá boleia a uma turista e depois se mete por um atalho para encontrar um local ermo onde a possa violar consiga sair do tribunal sem ir direto para a prisão. Mas assim aconteceu, ontem, em Portugal. Uma condenação de quatro anos e meio com pena suspensa. Ao abrigo da lei, claro está, pois até cinco anos qualquer pena pode, efetivamen­te, ser suspensa. É indigno e lamentável, mas este tipo de desvaloriz­ação acontece com frequência nos nossos tribunais, como vimos, recentemen­te, num acórdão da Relação do Porto, que considerou uma violação de “ilicitude pouco elevada”, porque não havia “danos físicos nem violência”. A violência psicológic­a pode, porém, ser mais dramática. Pelo que, em vez de saírem a terreiro para defender os visados em casos como o de Cristiano Ronaldo – que até prova em contrário é inocente – os políticos deviam era legislar no sentido de o crime de violação não admitir a suspensão das penas.

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