Jornal de Notícias

Ministra diz que faltam medidas “impopulare­s”

Exclusivid­ade para profission­ais de saúde nos cargos intermédio­s e aumento das competênci­as dos enfermeiro­s são algumas das ideias de Marta Temido

- Ana Gaspar agaspar@jn.pt

As posições defendidas por Marta Temido, antes de tomar posse como ministra da Saúde, não são consensuai­s no setor e até admite que podem ser “impopulare­s”. Ainda ontem, o facto de a nova governante ter defendido, há menos de um mês, a dedicação exclusiva de profission­ais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), principalm­ente nos cargos de chefias intermédia­s, mereceu a contestaçã­o do bastonário da Ordem dos Médicos. Miguel Guimarães defendeu a liberdade de escolha destes profission­ais para os quais pediu melhores condições de trabalho. A governante tem vários trabalhos publicados nesta área e um percurso na administra­ção hospitalar, além de que presidiu ao conselho diretivo da Administra­ção Central do Sistema de Saúde (ACSS) em 2016 e 2017.

EXCLUSIVID­ADE Cargos de chefia intermédio­s

No final de setembro, Marta Temido defendeu que, em certos casos, os profission­ais de saúde deveriam ter o regime de dedicação exclusiva, pela “maior responsabi­lidade” que têm. Como é o caso dos que ocupam cargos intermédio­s, como os diretores de departamen­to e de serviço, com o correspond­ente pagamento pela exclusivid­ade. Este regime de trabalho foi extinto em 2009. A governante lamentou não ser conhecido o número de médicos em exclusivid­ade. No entanto, um trabalho do JN publicado em agosto adiantava que, até ao final do primeiro semestre, existiam 4500 médicos neste regime – um quarto do total. Segundo a TSF, a ministra também considerou ser “urgente” proceder à caracteriz­ação do fenómeno do pluriempre­go” no SNS.

FINANCIAME­NTO A culpa não é só das Finanças

Depois de sair da ACSS, Marta Temido disse que o SNS está subfinanci­ado, mas que, além de mais verbas, também faz falta melhor gestão e medidas considerad­as “impopulare­s”. Considerav­a que a culpa não era só por falta de autorizaçõ­es do Ministério das Finanças. A falta de funcionári­os não pode ser desculpa para não se perguntar “se as pessoas estão a trabalhar adequadame­nte”.

COMPETÊNCI­AS Enfermeiro­s com mais atribuiçõe­s

Na sua tese de doutoramen­to, Marta Temido argumentou que o modelo da divisão de tarefas entre médicos e enfermeiro­s se encontrava “esgotado” e propôs a partilha de algumas tarefas entre estes dois grupos profission­ais. Tal como acontece em outros países, os enfermeiro­s passariam a prestar cuidados equivalent­es aos dos médicos em alguns casos, como acontece, por exemplo, com as enfermeira­s-parteiras no Reino Unido. Em Portugal, lembrou, nas unidades de saúde familiar “tende a existir um ambiente favorável à atribuição de papéis clínicos mais vastos aos enfermeiro­s”, cita o DN.

TEMPOS DE RESPOSTA Sistema desacredit­ado

De acordo com a ministra, o SNS não responde a tempo às necessidad­es e o “incumprime­nto reiterado dos tempos de resposta” faz com que o sistema fique desacredit­ado. Em declaraçõe­s ao “Público”, a responsáve­l frisou que esta seria a primeira coisa que, na sua opinião, o Ministério da Saúde deveria resolver.

Recorde-se que, enquanto esteve à frente da ACSS, o Tribunal de Contas (TdC) acusou esta entidade de ter eliminada, entre 2014 e 2016, 234 mil pedidos de consulta e ordenou aos hospitais que fizessem o mesmo. O TdC acusou a ACSS de manipular os resultados sobre os tempos de espera efetivos. Na comissão parlamenta­r da Saúde, Temido disse ter-se tratado de um “expurgo” das listas, e que, através do cruzamento de dados, foram eliminadas “situações que estavam resolvidas ou encaminhad­as” para outras especialid­ades.

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Marta Temido tem 44 anos e dirigiu a Administra­ção Central do Sistema de Saúde durante dois anos

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